Ermo que só a “antena parabola” (“deve ser especial pra
Copa”) numa fazenda no morro alcançou pouco antes. E a venda – fumo, doces,
queijo, cachaça – recebeu, na estreia, os que ali vagavam, passavam ou viviam,
uns trinta sem-alma.
“Brasil e
quem?”. Silêncio. “Esse time aí, de branco, é qual?”. “Tá escrito ali embaixo:
Croácia”. “Onde é isso?”. Silêncio. Tabefes nos mosquitos.
Ficaram em pé no hino, o velho com a mão no peito.
“Hein?”.
“Ssshhhiu!”. “Lá pros lados da China”.
Na hora do gol, o dono da venda foi apertar a buzina do
jipe sem vida.
“Mas branquelos
assim? De olho claro?”.
O outro gol justificou o caramuru e as batidas de
vergalhão no tambor. No fim, uma talagada pros adultos, geleia de três cores
pros menores.
Estrada afora.
“Sei não. Eles tinham mais cara de americano”.
Na cama, o suspiro: “no resto eles mandam. Mas na bola é
Brasil!”.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)