(Texto
de Paulo Cezar Guimarães)
Quem conhece a figura, sabe: Tiburcio só existe um, o meu amigo. Branco como a página em que escrevo este texto, desengonçado, comprido, óculos fundo de garrafa, fala mansa e pausada, cumprimenta a gente com a mão mais leve que uma pena. Mas não é por falsidade, não, é timidez mesmo. Se você consegue penetrar na intimidade dele, passa a conhecer uma pessoa admirável. Astuto, esperto, inteligente, criativo e, sobretudo, engraçado. Tão engraçado que resolvi contar três historinhas contadas por ele.
Quem conhece a figura, sabe: Tiburcio só existe um, o meu amigo. Branco como a página em que escrevo este texto, desengonçado, comprido, óculos fundo de garrafa, fala mansa e pausada, cumprimenta a gente com a mão mais leve que uma pena. Mas não é por falsidade, não, é timidez mesmo. Se você consegue penetrar na intimidade dele, passa a conhecer uma pessoa admirável. Astuto, esperto, inteligente, criativo e, sobretudo, engraçado. Tão engraçado que resolvi contar três historinhas contadas por ele.
Certa
vez, seu pai, que deve ser tão
Tiburcio quanto ele, foi ao banco resolver um problema burocrático qualquer. Chegando ao caixa, percebeu
que a moça tossia muito. Amável e
prestativo, quis ajudá-la e disse-lhe que o melhor remédio para passar a tosse era levantar os dois braços e
respirar fundo. Ela aceitou o conselho.
Alguém de longe viu a cena e gritou: "É um assalto!".
Foi a
maior confusão – conta Tiburcio.
As
demais caixas se abaixaram, os outros funcionários esconderam-se atrás de armários e uma
das subgerentes desmaiou. Pulou
gente pra tudo que é lado. Até que o gerente, já debaixo de uma mesa, pensou: ‘Não pode ser. É o
seu José. Ele tem 70 anos. Não pode
estar assaltando’. Difícil foi esclarecer o caso à Polícia.
Mas Tiburcio também tem as suas. Certa vez, no
Rio, próximo à estação de trem da Leopoldina, meu amigo, que mora em Niterói,
estava num ônibus. De repente, passou um trem cruzando a Avenida Francisco
Bicalho e o ônibus teve que esperar.
- Sem ter o que fazer - diz ele - fiquei
contando os vagões do trem.
- Maior barato... 68 vagões. Contei tudinho, não
deixei passar um sequer.
Quando o trem acabou de passar, Tiburcio percebeu que o ônibus estava em silêncio total, as pessoas assustadas e o passageiro ao seu lado totalmente pálido.
Quando o trem acabou de passar, Tiburcio percebeu que o ônibus estava em silêncio total, as pessoas assustadas e o passageiro ao seu lado totalmente pálido.
- O que aconteceu com você? – perguntou meu amigo.
- Cara, você não percebeu? O ônibus foi assaltado – respondeu o passageiro.
- Cara, você não percebeu? O ônibus foi assaltado – respondeu o passageiro.
- Ih! Então esqueceram de mim! – encerrou o assunto Tiburcio.
A última história ele chama de clássica, para mim é lírica:
A última história ele chama de clássica, para mim é lírica:
- Estava cansado, com dinheiro no bolso e
resolvi pegar um "frescão" para retornar à minha casa. Sentou-se ao meu lado um homem
de terno, muito elegante e arrumado. No
meio do caminho, puxou conversa comigo,
com um jeito meio carente. Disse
ser advogado, famoso, mas uma pessoa triste. Seus clientes eram bandidos, traficantes, marginais,
corruptos. Abriu seu coração comigo e chegou a chorar. Contou que tinha medo de
ser assassinado por um de seus
próprios clientes. Durante toda a viagem, não me deixou falar um segundo.
Antes de sair, o advogado quis saber o que seu companheiro de viagem
fazia. E Tiburcio respondeu:
- Eu? Ilustro livros de crianças. Não ganho dinheiro, mas sou feliz!