Aposentaram-me.
Nunca mais fiz
um golzinho sequer.
Eu que toda semana estava nas manchetes.
Alegria das
torcidas.
Desculpa dos goleiros.
Não tenho muito
do que reclamar da vida.
Decidi a Copa de 50 – embora sacudissem a culpa no Moacir.
O Alcides chutou
e eu estava lá.
Sutil como beija flor.
Fiz gol em
estadual, Taça Brasil, Robertão, Brasileirão.
Vivi o esplendor dos campos de várzea
– e a maioria dos estádios brasileiros era campo de
várzea.
Eu nunca tive
fama no futebol europeu.
Voz do morro é coisa bem nossa.
Curiosamente,
meus amigos, muitas vezes a culpa era do goleiro.
Eles erguiam um montinho de terra na pequena área.
Pra bater tiro
de meta.
E depois, o montinho virava tragédia.
Com a chegada
das Arenas não teve jeito.
O gramado virou pampa infinito nos 90 minutos.
Até o toque de
bola se modificou.
O futebol agora tem dribles de futsal.
Eu me tornei
quase uma figura de museu.
Fico no quase, pois o museu do futebol homenageia todo
mundo.
Mas nunca se
lembrou de minha pessoa.
Logo eu.
Eu que balancei
as redes mais que Pelé e Coutinho juntos.
Eu que inspirei Zé Keti.
Eu que
transformei tanto perna de pau em vedete.
Aposentaram-me.
Nunca mais fiz
um golzinho sequer.
Eu que toda semana estava nas manchetes.
(Texto
de Roberto Vieira)