Mas valia a
pena. Era um platô pequeno, com grama natural, com as traves de bambu que eles
mesmos haviam colocado.
Só que em volta era tudo morro. Não tinha lateral nem tiro
de meta nem escanteio. Um palmo ou dois depois dos limites do campo eram as
inclinações – se a bola chegasse ali, rolaria até o sopé e fim de jogo.
O jeito era
jogar como eles faziam. Toques curtos, suaves. Aproximações, dribles secos, domínio
perfeito.
Pra fazer gol tinham que conduzir ou tabelar até as traves
e, com o pé em cima da bola, fazê-la ultrapassar a linha e puxá-la.
Isso criava um
cuidado, uma delicadeza de movimentos que lembravam o balé.
E, como no balé, eles jogavam em silêncio.
Só o vento, um
pássaro, um chiado, vindos de algum lugar distante, formavam a música inaudível
que eles dançavam.
Fui lá uma vez. Não quis jogar, temendo deixar a bola
escapar e acabar com o jogo. Fiquei só olhando.
Admirei de
início o domínio que eles tinham sobre a bola.
Mas logo percebi que não era bem isso.
Na verdade, era
a bola quem os comandava.
Era ela quem imperava, ditava o ritmo, dirigia os
movimentos.
Ela era a
majestade.
Os meninos eram seus súditos.
O campinho, um
tipo de palácio.
(Texto de Luiz
Guilherme Piva)