23 novembro 2017

19 novembro 2017

17 novembro 2017

15 novembro 2017

13 novembro 2017

11 novembro 2017

Enganador

O culto à mentira é dos mais danosos comportamentos a que o indivíduo se submete. Ilusão do ego, logo se dilui ante a linguagem espontânea dos fatos.
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09 novembro 2017

07 novembro 2017

05 novembro 2017

03 novembro 2017

Mardita Pinga

Começou a música, um bêbado levantou-se cambaleante, dirigiu-se a uma senhora de preto e pediu:
- Madame, me dá o prazer dessa dança?
E ouviu a seguinte resposta:
- Não, por quatro motivos:
Primeiro, o senhor está bêbado!
Segundo, isto é um velório!
Terceiro, não se dança o Pai Nosso!
E quarto, porque “Madame” é a puta que o pariu! Eu sou o padre!
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01 novembro 2017

W.O.

Amontoados na Kombi velha iam titulares, reservas, isopores, bolas, motorista/treinador/dono do time e da Kombi, sacolas e pá, corda, balde e outras tralhas.
Tinha empurra-empurra, reclamações e zoeira com os esbarrões e as posições inconvenientes, gritaria na janela quando passavam por moças no caminho, rádio ligado, bateção no teto e no lado de fora da lataria e sacolejos enormes na estrada de terra esburacada.
Valia a pena. Jogo em fazenda grande, com campo gramado e rede. E sempre rolava um bicho – pouca coisa, mas dava pra juntar uns trocos jogando nas redondezas. O histórico de vitórias era bom.
O mais velho contava, pra inveja dos mais novos, que tinha até comprado um Vaporetto (“dos grandes, com rodinha”) pra mãe só com os bichos. Outro mostrou o tênis – de segunda mão, mas novo. O goleiro exibiu o Ray-Ban (“legítimo, legítimo”).
E nesse jogo o bicho seria dobrado, porque o anfitrião convidara.
Só que a Kombi quebrou. Falhou um pouco, tossiu, rosnou, atirou, emudeceu, bufou – e parou. Nenhum sinal na chave. Uma fumacinha na tampa do motor. Desceram todos, palpitaram, cutucaram, mexeram nuns cabos e tentaram empurrar. Nem soluço.
Começou a irritação, o pessoal reclamando com o dono, bate-bocas, empurrões, deixa-dissos, até que alguns decidiram que deveriam ir a pé.
“A pé?” “Estão loucos?” “A pé, sim.” “Mas são dez quilômetros ainda!” “Bora a pé!” “Vai ter jogo e vai ter bicho!”.
Só o dono ficou. Coçando a cabeça, olhando o motor, torcendo pra passar alguém ali no ermo.
Tardinha. Noite. Madrugada. Ninguém voltou.
Ele dormiu dentro do carro e acordou com o sol no rosto. Nem sinal do time. Nem de ninguém. Virou-se com a água de um isopor e as goiabas do entorno.
Quase meio-dia e passou um senhor na bicicleta. Podia ajudar, tinha um sobrinho mecânico.
Só no fim da tarde vieram os dois. O rapaz deu um jeito e o motor funcionou.
O dono foi até a fazenda onde seria o jogo.
Não tinha aparecido ninguém lá. O time da casa ficara esperando um tempão e desistira.
Voltou com a Kombi gaguejando até em casa. Procurou os jogadores nos sítios e roças e não achou ninguém. Nem notícia.
Depois de uns dias sem qualquer sinal, fizeram um velório simbólico coletivo.
Até que um dia um dos mais novos voltou. Pra roda assustada contou que na caminhada pra fazenda encontraram um caminhão cujo dono, vendo-os uniformizados, resolveu levá-los pra cidade dele, na lona, longe, depois da divisa do estado. E lá jogaram e lá ficaram. Mais ainda, o caminhão começou a excursionar com eles, pagar bichos, arrumar roupa, pensão, comida, ganharam as estradas, depois alguns se dispersaram, ele seguiu jogando com os demais.
“E por que voltou?”
Abriu a sacola, pegou os óculos escuros, o par de tênis e o Vaporetto, que entregou, emocionado, à mãe. Tudo comprado com os bichos das excursões.
“Já conquistei o que queria.”
E por lá ficou, no trabalho da roça, enquanto o tempo fazia morrerem a mãe, dois dos seis irmãos, muitos conhecidos – e ele mesmo, num dia de chuva, numa foiçada de um vizinho.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)