21 outubro 2018

Futebol na Lama

Nada era tão desafiador como o futebol na lama. A bola pesada. A bola parando de repente na poça diabólica. A bola ganhando velocidade líquida e rarefeita.
Nada também era tão maravilhoso quanto a chuva torrencial na corrida, o vento desconstruindo a tática, o atacante rápido derrapando no terreno ártico.
Nada trazia tanto conflito ético como a proibição materna para não sair na chuva pra jogar bola. Resfriado, raios, sapos, cobras e vidro quebrado eram usados pela genitora para nos assustar. Mal ela dava as costas, tchau!
Estávamos no meio do temporal driblando os dez mandamentos. Nesse tempo de politicamente correto, aulas de futsal, futebol society e drenagens hightech, poucas crianças e adolescentes sabem ficar de pé num mar de lama.
Perdemos todo o know how.
Viramos uns almofadinhas da bola.
Pena!
Todo apaixonado pela bola deveria, ao menos uma vez na vida, escorregar com a bola dominada numa poça cheia de água, terra e mangue.
Pelo bem da sua sanidade mental…
Algo que nem Freud explica!
(Texto de Roberto Vieira)