Antonio Barbosa era órfão. Havia
perdido seu pai e se distraia na saudade brincando de ioiô. Jogava o dia todo.
Saía da escola e se agarrava ao brinquedo.
Os amigos já gostavam do jogo de
bola, mas Antonio preferia a solidão do ioiô.
Somente com o brinquedo ele conseguia
afastar a tristeza.
As Lojas Brasileiras surgiram com a
promoção. O campeonato pernambucano de… ioiô.
Os amigos de Antonio disseram pra ele
se inscrever. Ele não queria. O ioiô era um amigo e não uma competição de
verdade, um jogo como aquele jogo dos amigos.
O ioiô era o refúgio de Antonio.
Mas os amigos fizeram pilhéria. Os
professores fizeram descaso daquele campeonato absurdo – bom era xadrez. De
tanto que fizeram pouco, Antonio se inscreveu no tal campeonato. Para mostrar
ao mundo que o mundo não sabia de nada.
Domingo de sol improvável naquele mês
de tantos ventos e chuvas na cidade.
Recife parou para ver o campeonato
pernambucano de ioiô. Jornais dizendo que o próprio Príncipe de Gales também
gostava de ioiô.
Ante o olhar espantado de seus
competidores. Diante do semblante estupefato dos amigos que se bandearam ao
descampado para ver a vergonha do amigo. Sob o semblante severo da comissão
julgadora… enfim, pra toda gama de espectadores que trocara o domingo de
futebol pelo domingo de ioiô, Antonio mostrou do que era capaz no ioiô.
Durante quinze minutos exibiu
piruetas, desenhos, filigranas, truques mágicos e rodopios. Antonio venceu a
tudo e a todos. Foi consagrado rei do ioiô, campeão dos campeões, glória do
desporto nacional.
Final do certame, caminho de casa, lá
estava Antonio e seu amigo no bolso. O único verdadeiro amigo que possuía. O
único amigo que estivera com ele após o adeus do seu pai. Seu pai que lhe
presenteara com aquele ioiô. Seu Antonio Barbosa que lhe ensinara cada truque
daquele ioiô, debaixo das críticas dos parentes e da esposa que não entendiam
tamanha paixão por um brinquedo.
Antonio chegou em casa. A mãe disse
que estava atrasado para o almoço e que agora só janta. O padrasto gritou que
ele não passava mesmo de um irresponsável qualquer.
Antonio não disse nada.
Foi para o quarto e lá se trancou com
o amigo ioiô e a medalha das Lojas Brasileiras.
Pois um campeão não deve chorar…
(Texto
de Roberto Vieira)