29 janeiro 2011

Canna Cola

O criador do refrigerante de maconha "Canna Cola", Clay Butler, pretende que o produto esteja em 15 Estados americanos, como Colorado, Califórnia e Arizona, até o fim do ano. São locais em que o uso medicinal da maconha é permitido.
A bebida de Butler terá uma incidência de THC (tetrahidrocanabinol) entre 35 e 65 miligramas. O tetrahidrocanabinol é o principal ingrediente psicoativo do cannabis, o gênero botânico utilizado para produzir haxixe e maconha.
Butler, 44 anos, vive na cidade de Santa Cruz, lugar ideal para quem gosta de praia, que fica no Estado da Califórnia. Todos os dias pela manhã, o americano aproveita a beleza da paisagem para praticar seu esporte predileto, o surfe. Quando procurado pela Folha ontem, respondeu, por e-mail, que não poderia conversar naquele momento por estar a caminho do mar.
Nesta sexta-feira, a Folha conseguiu conversar com Butler. Para isso, entrou em contato mais tarde do que no dia anterior. Depois de vencer as ondas, o californiano concedeu, por telefone, uma entrevista. "Venderemos o refrigerante em todo o país, mesmo naqueles Estados que não permitem o uso da maconha para fins medicinais", explicou.
Nesses Estados, a pequena empresa que comanda já criou uma maneira de atrair o público, sem cometer qualquer ilegalidade. Em vez de maconha, vão utilizar "outras ervas relaxantes", expressão utilizada por ele, com destaque para a camomila. "A embalagem será a mesma. O produto terá o mesmo padrão. Mas sem contar com as propriedades da maconha", revelou.
Alimentos e bebidas que contenham o THC em sua fórmula não são exatamente uma novidade nos Estados Unidos. O inédito está na elaboração de um produto que circule nacionalmente, independentemente das diferentes legislações que vigoram nos Estados, principal objetivo, aliás, do surfista.
Nos Estados Unidos, os consumidores, mediante apresentação de receita médica, conseguem comprar uma lista extensa de alimentos que usam propriedades da maconha em lojas especializadas. Até mesmo cookies e barras de cereais são comercializados.
"É fácil conseguir uma receita médica", revelou Butler. Segundo ele, alguns médicos da Califórnia são especializados em conceder esses atestados, chamados de "doutores da maconha medicinal", e oferecem seus serviços, por meio de anúncios publicitários, em revistas menores. Existem diversos sites que explicam, de forma detalhada, como conseguir seus serviços em cada um dos Estados onde a prática é autorizada.
Há também a opção de o interessado adquirir um cartão de maconha medicinal, o que permite, inclusive, cultivar determinado número de pés de maconha no quintal da sua própria casa.
Se o paciente apresentar insônia, falta de apetite, nervosismo e cansaço muscular, a autorização do médico, de acordo com Butler, é quase certa. Como se sabe, a maconha tem poder terapêutico, o que representa uma forma de tratar esses problemas.
"Na Califórnia, você pode comprar produtos feitos de maconha aos 16 anos se seus pais e o médico aprovarem", destacou Butler.
LEI DO BROWNIE
O que está dificultando a vida do empresário é um projeto de lei, apelidado de "Brownie Law" (Lei do Brownie), de autoria da senadora democrata Dianne Feinstein, política conhecida por ser radicalmente contrária ao uso da maconha. O projeto de lei foi aprovado pelo Senado no ano passado e seguiu para análise dos políticos da Câmara dos Representantes.
A proposta proíbe que qualquer pessoa misture maconha com doce, faça com que a embalagem desse produto pareça com a de um doce convencional ou modifique as características da maconha com o objetivo de distribuí-la para pessoas com menos de 18 anos. São três, portanto, as restrições, todas elas independentes umas das outras.
O primeiro ponto da proposta está incomodando Butler, o de não permitir a mistura da maconha com doce, proibição que inviabilizaria seu negócio.
"O projeto não especifica quais alimentos se enquadram em doce", criticou. "Na verdade, os senadores querem o fim da venda dos produtos que contenham maconha. A lei federal já proíbe qualquer atividade com maconha. O objetivo deles é coibir nossa atividade", finalizou.