Depois vieram os procuradores.
Mas o futebol era jogado no campo.
Tinha bicho, catimbó e catimba.
Subornavam-se árbitros e goleiros.
Mas o futebol era jogado no campo.
Clubes surgiram e se firmaram.
Angariaram tradição e torcedores.
Futebol jogado no campo.
Aqui e ali bastidores.
Coronel Menezes era rubro negro.
Porém, vascaíno de filho.
Contrato de gaveta, miséria e submissão.
Afonsinho e Tostão versus Yustrichs de plantão.
Mas o futebol era jogado no campo.
Seleção era encanto e sonho.
Garrincha e infiltrações nas articulações do poder central.
Dez por cento.
‘Pai, afasta de mim esse contrato!’
‘Deixa comigo que seu filho fica rico!’
Os clubes acordaram pobres e miseráveis como os antigos craques.
Dívidas imensas.
Subvenção governamental.
Craques com Ferraris.
Pais com BMWs.
Empresários donos do gol.
A seleção era grade curricular pra vender o menino pro Oriente.
Vinte por cento.
Trinta por cento.
O dirigente abraça o empresário.
O empresário monta o elenco e escala o time.
O torcedor não entende.
Perna de pau entrando de frente.
Craque sentado no banco.
Bicho, catimbó e catimba no Museu do Futebol.
Quarenta por cento.
O comentarista elogia o perna de pau:
‘Chega junto!’
O amor à camisa lacoste.
O manto sagrado surrupiado no chão.
Empresário Futebol Clube campeão…
(Texto de Roberto
Vieira)