A
turma caiu na gargalhada.
Gordo.
Difícil
achar banca para sentar.
O mundo era dos magérrimos adoradores
de verdura.
Achou
a banca.
Ficava no fim da sala.
Melhor
assim.
Quem sabe esqueciam dele?
Raquel
sentava ao lado.
Olhos negros e sorriso inacessível.
Ele
era gordo.
Meses se passaram.
Jogos
colegiais.
O time ia disputar a final.
Téo
pegou catapora.
E agora?
Téo
era o craque da escola.
O homem gol de olhos azuis.
O
time ia jogar com dez quando alguém lembrou:
‘Bota
o Gordo!’
O Gordo ficou sem jeito de recusar.
Até
Raquel achou graça e deu uma força.
O Gordo jogou com uma camisa rasgada
nos flancos.
Primeira
bola que chega.
O Gordo domina, enfia por debaixo da
perna do marcador e toca no canto.
Espanto.
O Gordo sabia tudo de bola… e algo
mais.
A
bola chega e as chuteiras adversárias voam a seu encontro.
Primeiro com lealdade.
Depois
com pura maldade.
O Gordo deixa a todos na saudade.
Marcou
cinco gols nas redes inimigas.
Foi carregado nos ombros, com muito
esforço, pelos seus agora amigos.
E
recebeu um beijo na bochecha dado por Raquel.
A menina dos olhos negros e olhar
inacessível.
Daquele
dia em diante?
Era o Gordo e mais dez!
(Texto de ROBERTO
VIEIRA)