Desde que vira a
primeira vez na TV, toda vez que fazia gol ele corria na direção dela, no
alambrado, com aquele contorno que ela achava ridículo no ar.
Morta de vergonha, ria esmaltado.
Agora que se
separaram ela até sente um pouquinho mais de afeto pelo gesto.
Mas nem a campo vai mais.
E ele nunca mais
conseguiu fazer gol.
Não fazia muitos antes. Zagueirão, enorme, troncudo, só em
cabeçadas de escanteio, de vez em quando. Mas fazia.
O que ela não
aguentava era aquele homenzarrão com as mãozinhas de pétalas – cadê os punhos
cerrados, o muque, o soco no ar, o tapa no peito, o berro, o homem que ela
gostava de exibir?
“Mas é de carinho”, a mãe, a irmã, as amigas tentavam.
Ela detestava
cada vez mais.
E só aguentou até o dia em que ele rebuscou. Fez o
coraçãozinho, pôs as mãos coladas no peito, do lado esquerdo, e pulsou a
mímica, como se o órgão batesse. Na cara, o sorriso frágil, feliz.
Ela se agarrou
ao arame, esticou o pescoço e gritou na frente de todo mundo: “Seja homem,
rapaz! Seja homem!”.
E foi embora. Do campo, de casa, da vida dele. Ninguém
acredita que volte.
Embora ele
insista.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)