=“Que coleção de cicatrizes você tem? Nunca se esqueça de quem
lhe deu as melhores. E seja grato. Nossas cicatrizes têm o poder de nos fazer
lembrar que o passado foi real.”=
(Escritor norte-americano Thomas Harris)
25 abril 2017
21 abril 2017
19 abril 2017
17 abril 2017
No Alambrado
Era o que ele mais queria. Igual na TV, subir na tela ao
comemorar o gol.
Só que não tinha alambrado.
Cada campo! Às vezes ao lado tinha riacho, bananeira,
ribanceira, porteira, curral, estrada, muro, trilha de boi, formigueiro, ou só
um descampado mesmo, de areia, terra ou capim.
Ele fazia o gol – muitos, aliás – e saía correndo,
olhando, imaginando-se saltando nos buracos de arame e dando os braços para os
torcedores, rodando a camisa sobre a cabeça e jogando-a no meio da galera.
Podiam dar cartão, sem problemas. Se fosse o segundo,
podiam expulsar – nem aí.
Mas queria aquela glória. Vendo na TV abria a boca,
levantava-se, insinuava o mesmo movimento, chegou a pular no sofá – que, fraco
e velho, quebrou e lhe valeu uma bronca da esposa.
Uma vez havia uma cerca. Baixa, velha e de arame farpado.
Chegou a correr na direção dela, mas viu que ela ia desmontar e que ele poderia
se enganchar nos espinhos de ferro. Parou.
Até que um dia – quase sempre é com “um dia” que se fazem
as histórias – foram a um campo melhor. Quase um estádio. Traves de ferro, rede
nova, dois degraus de cimento de um lado para os torcedores, marcação de cal –
e o alambrado!
Dos quatro lados. Com vigas brancas e a tela de losangos
de arame.
Atrás dele, uma dúzia de velhos e meninos, dois vira-latas,
um sujeito magrelo vendendo laranja.
Eu poderia terminar dizendo que ele não fez gol, mesmo
tendo, além de duas chances cara a cara, um pênalti que ele chutou longe. E que
se frustrou a ponto de nem querer mais jogar, ou de não conseguir mais fazer
gol.
Ou que, mesmo assim, sem marcar, ao final do jogo ele
correu até lá, subiu e comemorou emocionado, para espanto dos jogadores e dos
assistentes.
Mas não. Este “um dia” pede outra variação.
Melhor assim: ele fez o gol, o da vitória, no final do
jogo (no último segundo, na verdade), num chute retumbante de fora da área que
bateu na forquilha e estufou a rede.
Ele correu para o alambrado. Ia subir e rodar a camisa e
jogá-la como sempre sonhou.
Mas parou bruscamente a um metro da grade. Com a freada,
os companheiros quase caíram por cima dele. Abraçaram-no, empilharam-se,
ergueram-no nos ombros e o levaram numa espécie de volta olímpica.
Percorreram todo o perímetro lado a lado com o alambrado.
Ele olhava cada gomo vazio, as vigas, os laços em volta das vigas, a cor do
arame, o calibre, o espaço onde poria os pés, imaginava como apoiaria a mão
esquerda e onde a camisa iria cair – talvez no cesto de laranjas.
Mas seguiu nos ombros dos colegas, deixou-se levar ao
barraco que servia de vestiário, ao caminhão, à estrada, ao nunca mais.
E perdeu a vontade. Parou de pensar naquilo. Seguiu
fazendo gols e comemorando no chão, como sempre.
Nem as comemorações da TV o abalavam mais.
Ele sabia que poderia ter feito o que mais queria. Que
seria perfeito, glorioso, como sempre sonhara.
E isso lhe bastava.
(Texto de Luiz
Guilherme Piva)
#15 abril 2017
13 abril 2017
Kryptônia
Kryptônia
O
título “Kryptônia”,
embora isso pareça muita surrealidade, deve fazer menção ao planeta de origem
do Superman, Krypton. Seria um óbvio aportuguesamento do nome. O Superman
nasceu em Krypton e, antes que esse planeta explodisse, foi enviado à Terra por
seu pai. Quando Krypton explodiu, algumas partes suas chegaram à Terra em forma
de asteroide, que traziam consigo pedaços de kryptonita, um mineral que
tem o poder de enfraquecer o Superman.
(Zé
Ramalho)
Não admito que me fale assim
Eu sou o seu décimo-sexto pai
Sou primogênito do teu avô
Primeiro curandeiro
Alcoviteiro das mulheres
Que corriam sob teu nariz
Eu sou o seu décimo-sexto pai
Sou primogênito do teu avô
Primeiro curandeiro
Alcoviteiro das mulheres
Que corriam sob teu nariz
Me deves respeito
Pelo menos dinheiro
Esse é o cometa fulgurante
Que espatifou
Pelo menos dinheiro
Esse é o cometa fulgurante
Que espatifou
Um asteróide pequeno
Que todos chamam de Terra
Que todos chamam de Terra
De Kryptônia desce teu olhar
E quatro elos prendem tua mão
Cala-te boca companheiro
Vá embora, que má criação!
De outro jeito
Não se dissimularia
A suma criação
E quatro elos prendem tua mão
Cala-te boca companheiro
Vá embora, que má criação!
De outro jeito
Não se dissimularia
A suma criação
E foi o silêncio
Que habitou-se no meio
Ele é o cometa fulgurante
Que espatifou
Que habitou-se no meio
Ele é o cometa fulgurante
Que espatifou
Um asteróide pequeno
Que todos chamam de Terra
Que todos chamam de Terra
11 abril 2017
09 abril 2017
Corrupção
“O Brasil não tem
partido de direita, de esquerda, de nada. Tem um bando de salafrários que se
reúnem pra roubar juntos.”
(Diogo Mainardi)
#
“Todo mundo erra, só
que uns viram as costas e não estão nem aí. Outros, procuram reparar seus
erros.”
(Raquel Piffer)
07 abril 2017
Incontrolável
Quantas vezes já fez aquilo?
Milhares, talvez.
Não era fácil, mas era natural: pegar
a bola, levantá-la, controlá-la, mantê-la sob domínio – embora muitas vezes
pensasse que a bola é quem dava o ritmo e a trajetória, e que só no final ele
recobrava um pouco da altivez.
Mas há dias, semanas, que ele não
consegue. Olha a bola, toca, dá voltas, segura com as mãos, rola no chão, pisa,
faz menção de levantá-la, mas ela escapa. Joga-a para o alto, tenta apará-la no
peito, mas ela pula longe.
Afasta-se, finge naturalidade e volta
como se aquilo precisasse de um pouco de inconsciência. Chuta-a contra a parede
para, na volta, com o bico do pé, fazê-la subi e descer mansa nas embaixadas.
Nada: ela vem quieta e, ao seu toque, sai torta, parafusada, com medo dele,
fugindo – e se esconde acuada debaixo de algo.
Ele a deixa. Amanhã ou depois será
domada.
Afinal, quem é ela para ter vontades?
É sua razão que dá sentido a ela.
Dias depois, outra tentativa. E
outras.
Fracassos.
Decide então que não é sua razão, mas
seus movimentos, sua experiência empírica em tocá-la, é que conferem validade à
bola e ao ato de controlá-la.
Vai na marra.
Necas.
Cada vez mais acha que está mudo dos
pés.
Ou que a bola está surda.
Tenta mímicas: deixa-a no chão e faz,
no ar, os movimentos do controle para que ela assista, entenda, capitule. Ela
espia sem olhos e estanca.
Tenta sombras: fica contra o sol, à
frente da bola, de frente para o muro, para ver o reflexo escuro da esfera platônica
às suas costas. Então vira-se para enxergá-la iluminada, para que ela se abra,
se revele e se entregue a ele. Ela permanece fechada em sua verdade essencial,
indesvendável.
Ele recua. Sabe que não sabe mais
nada. Que desconhece a si mesmo.
E, por fim, desiste. Vê, sem ação, a
bola se afastando, indo embora, um grão no horizonte.
Percebe que mesmo que corra atrás
dela jamais a alcançará: pontos infinitesimais sempre a separarão dele porque o
tempo, que sempre passava, deixou de existir.
Brincar com a bola agora é só uma
ideia pretérita. Uma parte dele que não existe mais – porque tudo passou e ele
não é mais o mesmo.
Ele entrou de uma vez por todas em
outro rio.
E neste não há bola para se jogar.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
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02 abril 2017
Raiz
Enquanto Deus for a tua raiz, não existe pedra alguma que
impeça teu crescimento. Floresça onde Deus te plantou!
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01 abril 2017
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