(William Shakespeare, dramaturgo e poeta inglês)
#23 julho 2017
Morte Única
=“Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o
homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.”=
19 julho 2017
Futebol Fantasma
Fantasmas, sim. Eles sempre jogam
ali. Chegam de noitinha, batem bola, dividem-se e começam.
Todos eles. Conheço todos. Vi cada um
deles crescer, viver e morrer aqui no bairro. Pedreiros, vendedores, garçons,
chapas, camelôs. Um deles foi alfaiate. E um ruço bexiguento que só bebia.
Foram morrendo. Uns moços; outros, de
velhice. De uns anos pra cá começaram a se reunir ali pra jogar bola.
Começa bem na hora que eu pego no
serviço. Abro o portão, entro, fecho, limpo os pingos de velas do chão, jogo
fora os restos de flores e vou pra guarita.
Precisa, sim, de vigia. Antes não
tinha. Mas andaram roubando de tudo aqui: azulejos, vasos, dentes, anéis,
sapatos, sumiu até corpo de mulher nova.
Eles não me veem. Ou fingem, não
importa. Fico ali fumando, de vez em quando grito “chuta!”, “cuidado!”, mas não
ouvem. Só dá um grande eco no escuro.
Passa carro às vezes, bem no meio
deles. No início eu me assustava, achava que ia atropelá-los, mas hoje dou
risada. Também moto, gente, bicicleta. São poucos, mas passam. E não veem nada.
Ainda bem. Iam se assustar. As
cabeças deles parecem máscaras: pálidas, sem pupilas, banguelas. Mas o corpo é
igual ao de quando eram vivos.
Sabe que é um futebol até bonito?
Leve, silencioso, sem briga.
O que me pergunto sempre é sobre a
bola. Como é que pode ter bola fantasma?
Sim, bola fantasma. Porque ninguém
que passa por aqui vê a bola. Só eles. Se fosse bola de verdade, o pessoal
veria, não?
Como eu vejo? Não sei. Mas vejo tudo.
Até a bola.
Meia-noite eles param. É a hora que
eu desligo tudo. Deito no colchonete. Espero amanhecer.
Não sei até quando.
Não deve demorar.
Mas até que é bom saber que logo,
logo vou ter essa peladinha pra jogar com eles.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
17 julho 2017
15 julho 2017
Inexoravelmente
A Natureza das Coisas
#
(Accioly Neto)
Oh! chá lá lá lá lá lá lá
Oh! coisa boa é
namorar
Se avexe não
Amanhã pode acontecer
tudo
Inclusive nada
Se avexe não
A lagarta rasteja até o dia
Em que cria asas
Se avexe não
Que a burrinha da
felicidade
Nunca se atrasa
Se avexe não
Amanhã ela pára na porta
Da sua casa
Se avexe não
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem
pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega
lá
Se avexe não
Observe quem vai
subindo a ladeira
Seja princesa ou seja lavandeira
Pra ir mais alto vai
ter que suar
#
13 julho 2017
11 julho 2017
Incontinência Verbal
As habituais reações desmesuradas do presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, transmitem a sensação de que falta a
ele o indispensável equilíbrio para exercer função de tamanha responsabilidade
no contexto global.
09 julho 2017
07 julho 2017
05 julho 2017
Gol de Honra
Comecinho de jogo.
– Volta!
Ele olhou espantado.
– Volta!
Era com ele mesmo.
Centroavante, retornava caminhando depois do ataque perdido. E iria
somente até a intermediária do outro time, ou até o meio de campo, no máximo.
O rapaz gritava com ele:
– Volta pra marcar, porra! Vai ficar olhando?
Parou. Mais de dez anos jogando ali.
Artilheiro. Capitão. Nunca ninguém ousara algo parecido. Nem técnico, nem
torcida, muito menos jogador.
O rapaz, zagueiro, era novo no time. Filho de um morador recém-chegado ao
bairro.
Não voltou. Pôs as mãos na cintura e
ficou olhando. O rapaz foi envolvido pela tabela dos adversários, tentou
bloquear o nove, chegou tarde, caiu, gol deles.
Levantou-se bufando e viu o centroavante lá na frente, assistindo. Foi
andando firme em sua direção. Parecia decidido a enfrentá-lo. Jogadores, torcida, juiz, técnicos, todo mundo olhando.
Parou na frente do centroavante. Ia abrir a boca para xingá-lo ao mesmo
tempo em que movia as mãos para pegá-lo pela gola.
O centroavante foi mais rápido.
Segurou o rapaz pelos punhos, apertou-os de forma dolorida, colou o rosto no
dele e berrou:
– Sabe quando eu vou voltar pra marcar? Sabe? Nunca!
A saliva espirrou no rosto do rapaz.
O veterano o empurrou violentamente.
– Aqui eu faço é gol! Vocês lá atrás marcam! E os do meio me passam a bola
para eu fazer gol!
Pôs o dedo no meio dos olhos do
rapaz.
– Entendeu?
O jovem olhou em volta. O silêncio de
todos parecia dar razão ao centroavante.
Ainda tentou, intimidado:
– Mas, gente. Futebol moderno é
assim. Todo mundo tem que ajudar na marcação. Senão dá nisso: gol deles. Não
viram?
Ficou claro que não tinha entendido nada.
O outro zagueiro foi lá puxá-lo de
volta. Mas ele ainda insistia:
– É jogo coletivo, gente.
O pai dele, do lado de fora, abaixou
a cabeça, entrou em campo, pegou-o pelo braço:
– Vem, filho, vamos embora.
– Mas, pai.
– Vamos, filho, vamos.
Virou-se para o centroavante:
– Desculpa aí. Ele é novo. Fica vendo esses jogos na TV. Desculpa. Não tinha ninguém para entrar no lugar dele. Jogaram o
tempo todo com dez. E o centroavante seguiu sem voltar para marcar.
Perderam feio: seis a um.
Mas o gol foi dele.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
03 julho 2017
Manga
Uma boa historinha do Manga, grande goleiro do Botafogo nos áureos tempos do
clube e do futebol brasileiro:
Manguinha estava
suspenso de um jogo importante do Botafogo. Triste da vida, ruminava sua
ausência em casa.
Na véspera da partida,
já anoitecendo, recebe um telefonema de Otávio Pinto Guimarães, então advogado
do Botafogo na Federação do Rio de Janeiro, mandando ele ir pra concentração
pois havia conseguido um habeas corpus e ele poderia jogar.
Feliz da vida com a
notícia, Manguinha sai em disparada para se concentrar. Esbaforido, o goleiro
chega à concentração e comunica o ocorrido a Zezé Moreira, o técnico do
Botafogo: "Seu Zezé, eu vou poder
jogar, o Dr. Otávio conseguiu um tal de Corpus Christi pra mim e tô liberado!".
01 julho 2017
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