Em algumas oportunidades, alguém soltava um grito. E ele se
assustava, pois como ele tinha
certeza que era o principal culpado pelo resultado adverso,
pensava que o tinham descoberto. No seu desalento pensava que seria facilmente
identificado como o responsável por tudo dar errado, pois na multidão era dos
poucos que não vestia a camisa do seu time, nem uma vestimenta com a cor de sua
paixão. Também já sabia que todos que estavam saindo do estádio ao seu lado,
teriam que ouvir, por vários dias, piadas sem a mínima graça.
Pensava ser o pior
torcedor que um time pode ter, pois desde início do jogo já sentia
que o seu clube não conseguiria o resultado que precisava. Ficou os 90 minutos
pensando apenas em fracassos do time e traçando paralelos entre jogadores que
enterraram o time no passado com os atletas do elenco atual. Não era capaz de
recordar um grande momento de história do clube, mas não parava de elencar as
grandes derrotas que ele presenciou. Definitivamente, para ele, os piores momentos do
clube eram muito mais marcantes do que qualquer título ou grande vitória.
Também se culpava por não ter participado da festa da torcida na
entrada dos jogadores, por não ter gritado uma única vez o nome do clube
durante o jogo e por enxugar – disfarçar – as lágrimas que caíram após o apito
final. Não parava de pensar: como
alguém pode gostar tanto de um clube e nem consegue gritar o nome dele?
Deveria ter xingado o técnico, crucificar o goleiro, criticar o
atacante - que perdeu a melhor chance da partida -, xingar o árbitro, protestar
contra a diretoria, chamar o técnico de “burro” ou apenas conversar e abraçar o
vizinho de arquibancada, mas o sentimento de culpa que ele carregava não
deixava ele falar nada.
Continuava seguindo junto com a multidão, pensando que voltaria
no próximo jogo. Se sentiria ainda pior se não estivesse próximo do time em um
momento de baixa, mesmo sabendo que ninguém era mais culpado dos fracassos do
seu time do que ele. Ele
ama tanto o seu clube, que não se importa em só sofrer por ele.
(Texto de Humberto Luiz Peron)