O chute era
murcho, como se dado debaixo d’água. A lentidão era a de uma fuga no sonho.
Enxergava em braile. Mas queria porque queria.
Desestimulavam-no.
Só que ele era teimoso, parecia um trauma. Ia aos treinos. Ficava ali no
barranco, ao lado do técnico.
Que teve dó –
“ele tem a bondade de um idiota”, dizia! – e o escalou no jogo do infantil
contra o bairro vizinho. Jogo de festa. Não valia nada. E a molecada adversária
deu um vareio: 10 a 0! Tudo, aos risos próprios e de todos, em cima do “beque esquisito”.
Mas ninguém
falou nada com ele.
Que estava
incomparavelmente feliz.
Porque
felicidade não tem metáfora.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)