- Marcelo, esta é a Adriana. Adriana, este é o
Marcelo.
E trocando
olhares, fazendo daquele minuto um julgamento definitivo de tudo que precisava
saber para se declarar apaixonado, Marcelo decidiu que queria passar a vida com
aquela moça.
Precipitado, quase idiota. Mas perfeitamente normal,
pois assim surgem 99% das mais belas paixões já contadas.
Marcelo
então passa a procurar Pedro para que, através dele, possa rever sua amada. E
consegue.
Pedro combina pizza, chopp, os aproxima. Marcelo se
apaixona de vez. Ela sempre linda, cheirosa, arrumada. Ele, bobo, só olha e diz
“amém”.
Até que um
dia, pronto para vê-la, a caminho, Pedro diz a Marcelo que Adriana tem um
passado não tão bom. Pedro releva, não se importa. Se diz moderno pra aceitar.
Na volta de mais um chopp, Pedro dá indiretas para
insinuar ao amigo que Adriana tem mau hálito. Ele, que ainda não a beijou, ouve
pensativo.
Na mesma
semana o amigo passa a tratá-lo um pouco diferente. Distante, quase num ar
superior. Pedro se pergunta se é “ciúmes”, mas não. Não tem porque se o próprio
Pedro tanto a desmerece.
E os dias passam, Pedro consegue apenas conhece-la,
mas é intocável. Distante, quase impossível pra ele.
E então, a
admiração aumenta. Cria-se um mito. E desde mito, uma doentia relação de paixão
e ódio que sustenta aquela relação platônica.
Adriana não o ignora. Nem dá trela. O cativa, joga o
cabelo, mas passa reto.
Pedro então
envia um e-mail para Marcelo e diz que na verdade não queria relatar, mas a
moça é de família ruim. E seu trabalho não é lá dos mais honestos.
Marcelo custa a crer. E não crê. Não porque não quer,
mas porque não pode. O que construiu em sua mente é forte demais para se
destruir em palavras, boatos, insinuações.
Pedro
insiste. Mostra fotos, comprova que a moça além de tudo é alcoólatra. Sim, bebe
na madrugada e cai na rua. E então, ele chora.
Mas se motiva a recuperá-la desta vida. E uma nova
obsessão o possui e aumenta ainda mais aquela paixão platônica.
Insistente,
quase cruel, Pedro faz um levantamento de sua vida e apresenta ao amigo. Lá
está sua infância, seus podres, defeitos, amizades ruins e até mesmo doenças
que já teve.
Marcelo luta, mas lê o “dossiê” do “amigo”. E ao
final, surpreendendo novamente, ignora tudo que de ruim acaba de ler e diz:
“Ela já passou por tudo isso! Merece ser feliz. Eu vou fazê-la feliz!”.
Pedro quase
desiste. Mas seu recalque em não ter tido Adriana o atormenta demais. E
inconscientemente, faz uma fama ruim da moça por toda cidade.
Marcelo se afasta. Adriana se prostitui porque não
encontrou ninguém que a amava de verdade. Enquanto Pedro, diante da moça
sentada na sarjeta segurando uma bolsinha e ofertando o corpo a míseros 100
reais, diz ao amigo: “Eu avisei”.
Marcelo
acredita. Tolo, agradece ao “amigo” e se afasta. Pedro se aproxima de Adriana,
oferece apenas 80 reais, e finalmente dorme com ela.
Pedro é jornalista esportivo. Marcelo, torcedor.
Adriana caiu pra Série B.
(Texto de Rica Perrone)