Com ele vamos às
alturas proporcionadas pelas grandes vitórias, pelos grandes títulos.
Por ele vamos ao
inferno e ainda crianças sentimos a dor das perdas, a dor das derrotas.
Ele pode nos
tornar em fanfarrões chatos e insuportáveis, cantando vitórias e pisoteando
amigos e conhecidos, mas pode nos ensinar a difícil arte do saber ganhar…
E do saber
perder.
Há quem diga que
a vida reproduz o futebol.
Há quem diga que
o mais importante é o futebol… E depois a vida. O que é bobagem, mas há quem
assim pense, ao menos durante uma fase da vida.
O futebol é
balizado por regras e aprendemos isso de forma fantástica e inesquecível nas
peladas na rua de nossa casa, nos jogos da escola, nos jogos dos finais de
semana entre amigos. Há códigos de conduta, escritos e não escritos.
Não há futebol,
e nenhum outro esporte, sem uma forte base moral. Um time entra em uma disputa
para jogar e vencer de acordo com as regras.
O desenrolar de
uma partida pode conduzir a terríveis vicissitudes e a derrotas fragorosas, mas
mesmo nesses casos deve prevalecer a honra e a moral de quem está disputando e
dando o melhor que pode ao seu time.
Sempre achei
muito tolas e falseadoras da verdade as histórias de que “fulano ganhou
sozinho” um jogo, um campeonato, uma Copa.
Futebol é time,
é equipe, é uma associação de pessoas que vão lutar por um objetivo único, cada
uma do seu jeito, capacidade, dedicação, entrega… Derrota, vitória ou empate é
sempre o produto da ação coletiva. O atacante genial pode marcar o gol da
vitória, mas se todo o time não se empenhar na disputa, pouco ou mesmo nada
valerá aquele gol.
Um time não joga
a toalha, um time não deixa o outro vencer, não importa qual seja o motivo. E
se um time não pode e não deve esmorecer diante de um placar adverso ou de uma
fase em que nada dá certo, tampouco nós podemos deixar de encarar a vida e suas
dificuldades.
Temos de seguir
lutando, com perseverança, para equilibrar e depois virar o jogo, aprendendo
isso com o bom futebol desde a mais tenra infância. Porque o futebol não é a
vida, mas é parte dela e pode ensinar muito dela para nós.
(Texto de Albert Camus, um dos maiores escritores
franceses do século passado, prêmio Nobel de Literatura de 1957)