Certas coisas devem existir somente
como possibilidade. Temidas ou desejadas ao extremo, elas são muito melhores
quando pensadas: “já imaginou se?”, “só de pensar me dá um troço esquisito”, “nunca
mais o mundo será o mesmo” – e por aí.
A coisa imaginada não deve ocorrer.
Porque extinguiria o que a ideia tem de supremo.
Porque a realidade será sempre muito
menor.
Uma final de Copa do Mundo entre
Brasil e Argentina está nesta categoria. Ela é muito melhor – corrijo: só é
fantástica – assim: não acontecendo jamais.
Se ocorrer, com sua mesquinhez de
lances reais, com o fatídico resultado concreto, com as versões, teipes e
discussões, tudo perderá tensão, prazer, pavor.
Que joguem em amistosos, torneios,
eliminatórias, que se matem e se amem em qualquer lugar – até em semifinais de
Copa, se preciso. Mas em final de Copa, não.
Devem seguir o exemplo de América e
Pombense, de Rio Pomba.
Rivais mortais, só jogaram duas vezes
entre si em mais de cem anos. Uma no início e outra no final do século XX.
Foram dois empates – se não me engano, sem gols.
E a cidade, pequena, se agiganta de
prazer e pavor imaginando o que seria se voltassem a se confrontar. Mas todos
sabem que isso não deverá e não poderá ocorrer.
Preferem até que haja a guerra
mundial, o choque entre planetas, a fome e a peste, a cura de todas as doenças,
a felicidade e o dinheiro fartos.
Estou com eles.
Tudo, menos a final de Copa entre
Brasil e Argentina.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
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