Nasceu em 1º de
abril de 1964. Junto com a ditadura militar.
Na faculdade, Guilherme estudava Economia.
Conheceu Maria
de Lurdes, a Malu, moça linda que cursava, na verdade, que frequentava de vez
em quando, o curso de Filosofia.
Ela parecia um personagem saído da peça Hair.
Vestia roupas
exóticas, era vegetariana, defensora da natureza, pacifista, não era nada
vaidosa e totalmente desapegada do mundo real e capitalista.
Mas, como nas clássicas histórias de amor, os opostos se
atraíram e o capitalista se apaixonou pela hippie.
Wall Street se encantou por Woodstock. É 1982.
Começaram o namoro no mesmo dia em que a Itália eliminou o
Brasil na Copa do Mundo.
“Será um mau
sinal, começar nosso namoro num dia tão triste?”, perguntou ele.
“Nada a ver”, respondeu ela, “azar no jogo, sorte no
amor”.
Recém-formado,
Guilherme começou a trabalhar em um banco. Mas, não gostou daquela vida
monótona.
Incentivado pelo pai e por Malu, decidiu tentar a vida
como fotógrafo, já que fotografava por hobby.
O começo foi
difícil, mas depois de muita ralação, conseguiu se firmar como um profissional
reconhecido.
O Guilherme economista era só uma foto na parede.
Depois de
formada, Malu passou a trabalhar como professora que sonhava em mudar o mundo nas
passeatas e com folhetos e manifestos utópicos.
Estamos em 1986. Embora alma gêmeas bivitelinas, o amor
entre Guilherme e Malu era mais forte.
Casaram. No
mesmo dia em que o Brasil foi eliminado pela França na Copa do Mundo.
Será que isso era o sinal de alguma coisa?
O casamento
deles era um azarão.
Todos achavam que não ia durar.
Mas, um foi se
adaptando ao temperamento do outro.
Estavam para completar oito anos de casados com apenas uma
divergência séria.
Ele queria
filhos, ela não.
Por um descuido, porém, engravidou.
Guilherme ficou
radiante. Malu, conformada.
Em 1994 nascia Valentina, no mesmo dia em que o Brasil foi
tetracampeão contra a Itália.
O tempo foi
passando até que numa certa noite Malu revela, sem muito entusiasmo, que estava
grávida de novo.
Guilherme fez uma festa. Principalmente, depois que soube
que era um menino.
Artur veio ao
mundo em 2002, e como você já deve desconfiar, no mesmo dia em que o Brasil foi
pentacampeão.
As coisas pareciam normais, até o dia em que, já em 2010,
a empregada ligou para Guilherme.
Malu, não fora
trabalhar nem buscar os filhos na escola.
Dias depois de muito desespero, ligações a hospitais,
necrotérios e delegacias, Guilherme recebeu um email da mulher que dizia: “Gui,
fui. Foi mal.”
Doze letras e
quatro palavras que mudaram a vida daquela família.
O impacto foi tão grande que Guilherme nem percebeu que o
email chegou no mesmo dia em que a Holanda despachava o Brasil na Copa da
África.
(Texto de RICARDO PIEROCINI)
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