Estava na rua errada? Não. Todos os vizinhos pareciam estar
no mesmo lugar - a Rua das Flores, no povoado de Morrinhos, a cerca de 40
quilômetros de Feira de Santana. Avistou o telhado e viu que o imóvel não tinha
desaparecido. Mas... Cadê a porta?
É verdade que a estrada, a grama e a cerca são comuns em
Morrinhos. Só que, nesse caso, não passava da fachada da casa onde mora
desde que nasceu, com uma pitada de ilusão de ótica.
Quem olha rápido – e até quem olha atentamente – pode não
perceber que ali existe uma fotografia adesiva, impressa em tamanho real e
colada no que antes era a parede branca. A intervenção faz parte de um trabalho
da artista visual Maristela Ribeiro, professora do Instituto Federal da Bahia
(Ifba). Há um ano, ela começou um projeto que pretendia mostrar a realidade de
Morrinhos aos seus próprios moradores e ao mundo.
Após oferecer oficinas de arte e fotografia à população,
Maristela partiu para a última fase do projeto, que começou em dezembro e se
estendeu até março. “Não encontrei nenhuma imagem da comunidade, que existe
desde 1940. Imaginei trazer a paisagem regional e usar as casas como telhado”,
afirma Maristela, que usa o projeto na pesquisa no doutorado em Artes na Universidade
Federal da Bahia.
Apesar de chamar atenção dos quase 400 moradores e também
dos forasteiros, a casa de dona Luísa não é a única: as paisagens de Morrinhos
foram transportadas para outras nove das cerca de 90 residências do local.
“Meu objetivo era que as casas desaparecessem. Para mim,
era uma metáfora sobre o esquecimento do local, sobre como essas pessoas são
deixadas de lado e se tornam invisíveis”. Lá, a maioria dos moradores vive em
casas de taipa, sem saneamento básico. A principal fonte de renda, além da
agricultura familiar, é o Bolsa Família, segundo a pesquisadora.