Está de novo no
local de trabalho. É o que dizem. Você concorda para não correr riscos.
E então resolve retomar pé do mundo com as coisas que de
fato importam.
Em primeiro
lugar, lê o noticiário futebolístico.
Aquela lista de reforços que seu time anunciava antes de
você ter submergido (“onde foi o Reveillón?”), em que seis ou oito craques
disputariam posição (“ou era Carnaval?”), virou um rol de nomes que você
desconhece (“foi o champagne!”; “não saí ainda do caldo daquela onda!”; “a
safada pôs algo na minha romã!”).
Você lê de novo.
Zezinhoinho? Hermógenes? Cataldo? Salathiel? Joãozão?
Você olha o calendário. Não sabe o mês. Todos em volta
sabem seu nome. É o que dizem. Você responde para não parecer louco.
Aquela lista de
jogadores está em código?
Relê a lista e torce pra chegar de novo o fim de ano. Ou o
Carnaval. E pensa que a morena dessa vez não escapará e você não apagará em
cima do prato de lentilhas.
Em segundo
lugar, você abre o extrato bancário.
Lembra que tinha o décimo terceiro. Uma parcelinha de
bônus ou de PLR. Um guardadinho que você e a esposa (“meu Deus, é mesmo: eu sou
casado!”) juntaram com esforço (“ainda bem que apaguei antes de fazer
bobagem!”) e um limitezinho do cheque especial (“só se precisar, hein!, só em
último caso!”).
Você arregala os
olhos. Embranquece. Olha em volta. O calendário. As pessoas. Olha de novo o
extrato e tem palpitação. A boca seca.
Nem limite do cheque tem mais.
Você está pior
do que seu time.
Os que passam por você desejam um bom ano.
É o que dizem.
Você agradece.
(Texto de Luiz
Guilherme Piva)