Ou, visto de
longe, um hipopótamo.
Agora está ali, chorando, sem poder falar, com os
cotovelos na mesa e as mãos na testa, pulando com os soluços.
Fica ouvindo os chamados:
“pai! pai!”, “vem jogar mais bola!”, “vem, pai!”.
A voz do menino de cinco anos, com quem estava brincando
há pouco, driblando, chutando, abraçando, jogando pro alto, gritando gol,
derramou-lhe o choro e, repetida, aumentada, o inunda.
A última vez que
chorou assim foi há uns quarenta anos, criança, e nem se lembra do motivo. Sabe
que era numa pelada e que estava com o primo inseparável por toda a infância,
com quem então se parecia fisicamente, do qual se distanciou há uns trinta anos
e de cuja morte tivera notícia há menos de dois anos, o que o deixara
bestificado.
E do qual o menino, viajando em férias, na casa da avó,
vizinha à sua, é filho.
Brincou com ele
como tio. Mas o menino, agora, chamando-o para voltar, fala pai.
Espia e o vê, pequenino, com a bola na mão, chamando.
Imóvel na mesa,
chorando, encolhe, afina, esvazia.
Visto assim, de perto, lembra um Louva-a-deus.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)