No meio
dos jogos, via mulheres horrendas na arquibancada. Pareciam bruxas.
No
barraco que usavam como vestiário, um velho de chapéu encostado na porta.
Crianças
de olhos vazados correndo junto com o bandeirinha.
Dentro
do gol, um túnel.
O juiz
de rabo e chifres.
Adversários
virando anjos.
Cada
jogo uma visão diferente.
Não
falou nada pra não o tirarem do time – vai que achavam que estava ficando
louco, melhor ficar quieto.
Acabava
o jogo, tudo normal. Nada de visões, nem pensava naquilo.
Mas foi
se agravando.
Até que
a bola, vindo pra ser amortecida no peito, de repente abriu os braços.
Envolveu-o,
oferecendo o ombro à sua cabeça aturdida.
Acabou
desmaiando.
Ficou
meses pra recobrar os sentidos e se recuperar.
Quer
dizer, nem se recuperou totalmente. Parou de jogar. Ficou meio lento,
distraído, calado.
Segundo
ele, ninguém sabe de nada disso. Garantiu que só pra mim ele contou sua
história.
Sem
nunca nos termos visto antes.
Estava
ao meu lado, assistindo a uma pelada de garotos, e começou a falar.
Depois
parou. Olhou-me espantado. Sumiu.
Talvez
ele ache até hoje que eu sou mais uma visão que ele teve.
Porque
eu mesmo não sei se isso tudo ocorreu ou se foi uma visão que eu tive.
(Texto de Luiz Guilherme Piva, autor de Eram Todos Camisa Dez)