Mais lances ele
via na TV, mais ele imitava. Pelo alto, rasteiro, pra frente, pra trás – às
vezes, virava-se só pra executar o passe.
Errava todos. Travava o ataque. Matava as tabelas.
O pessoal da
pelada foi se enchendo. Ele insistia.
Reclamavam. Nada.
Xingavam. Nem
aí.
Ameaças. Seguia tentando.
Até que um dia
ele conseguiu o espantoso.
Do meio de campo, de costas para o seu ataque, recebeu a
bola, abriu as pernas e, sem virar a cabeça – afinal, era um bailarino –, de
primeira, deu o passe de calcanhar certeiro qual uma tacada de sinuca.
A bola foi como
um rastilho em meio aos adversários e encontrou o atacante lá na área se
deslocando na cara do gol – foi só tocar e sair, com todo o time, atrás do
autor do passe para abraçá-lo.
Mas ele, blasé, fez que não ligava. Recusou os abraços.
Afastou-os com o olhar e os gestos severos.
E parou.
Nunca mais tentou o lance.
Ninguém
entendeu.
Todos supunham que ele queria deixar imortalizado o lance.
Como se qualquer novo erro viesse a esfarelar a obra-prima.
Mas não
perguntavam temendo que ele voltasse com a mania.
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