Os da frente
ainda viam um pouco. Os do meio pra trás tinham que deduzir.
Mas todos vidrados em sagrado silêncio.
Fumo, cachaça, rapadura,
pão velho.
Do lado de fora, nada.
Um terreno
perdido e vasto.
Empoeirado.
Depois de morros
e trilhas.
Era o único lugar por ali em que o pessoal das roças de
todas as distâncias podia ver futebol.
Um deserto
marrom.
Tufos de mato secos, queimados.
Cercas.
Só o telhado de amianto do boteco e a espinha de peixe da
antena quebravam a paisagem.
Bicicletas
velhas na porta.
As botinas do lado de fora pra não sujar o recinto.
Calor e moscas.
O ar parado.
De noitinha,
todos de volta às suas distâncias.
À partida que eles venciam fugazmente naquelas horas de
futebol aos domingos.
Todo o resto,
antes e depois, dentro e fora do botequim, sem o futebol, era derrota.
E sem ninguém pra assistir.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)