Depois, de ele chutar pro filho pequeno espalmar como
acrobata na grama da praça.
Agora não defende nem chuta e sente saudade dos três.
Pensa que uma bola poderia tê-los unido no mesmo jogo.
Cada hora um chutando e outro no gol, ou os três
tabelando, ou dois na linha e um no gol, ou sentados no chão, com a bola no
meio, bebendo água, suados, falando alto, rindo e se preparando pros próximos
chutes.
Os três na garagem ou na praça.
Estiveram juntos algumas vezes em idades que teriam
permitido a brincadeira, o jogo, os gols e as defesas dos três.
Mas não se lembraram de pegar uma bola.
E então tudo passou – veio a morte, veio o velho, veio o
adulto.
Imagina que nada teria passado se tivessem jogado juntos
ao menos uma vez.
Que tudo teria estancado naquele momento.
E que eles teriam ficado para sempre como eram então.
Jogando bola juntos.
Agora não dá mais.
Que droga.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)