17 julho 2016

Sobrevivente

Em determinado momento do épico filme “Titanic”, vencedor de 11 Oscars em 1998, um funcionário do navio ameaça multar um passageiro que quebra a porta de uma cabine para salvar um homem que tentava fugir do interior da embarcação enquanto o navio afundava. É uma cena rápida no filme.  Quem a inspirou se chamava Duane Williams e seu filho, Richard Norris Williams II.
Eles viajavam na primeira classe do navio na fatídica noite de 14 para 15 de abril de 1912 quando o Titanic naufragou após colidir com um iceberg. Duane era um advogado milionário da Filadélfia, Estados Unidos, e seu filho, Richard, mais conhecido como Dick, era um famoso tenista norte-americano.
Após salvarem o homem que estava trancado na cabine, pai e filho subiram ao convés para buscar abrigo em um bote salva-vidas. Dick, o tenista, então com 21 anos, pulou na água congelante. Foi seguido pelo pai, 30 anos mais velho. A ideia era ir nadando até a embarcação mais próxima.
Quando olhou para trás, Dick viu uma das chaminés do Titanic cair exatamente sobre o local onde o pai estava. Foi tomado pelo desespero, que não amenizou nem quando já estava são e salvo em um bote de resgate. Durante quase seis horas, Dick permaneceu com água na altura dos joelhos, ouviu de um dos médicos na embarcação que teria de amputar as duas pernas, dando o avançado grau de gangrena provocado pelo gelo.
Dick recusou a amputação. E a história mostrou que ele tomou a decisão correta. Quatro meses mais tarde, lá estava Dick Williams em quadra, totalmente recuperado, para tornar-se campeão de simples do US Open.
Ele foi um dos maiores tenistas da história.
Venceu outras duas vezes o Grand Slam dos EUA e em Wimbledon, ambos nas duplas. Ao lado de Hazel Wightman, atingiu o auge da carreira, quando faturou a medalha de ouro nas duplas mistas nos Jogos de Paris-1924, última edição do torneio olímpico de tênis antes de a modalidade ser excluída das Olimpíadas até retornar em definitivo em Seul-1988.
Entrou para o hall da fama do tênis em 1957, já aos 66 anos. Morreu 11 anos depois, na Filadélfia.
Durante muito tempo, sua história permaneceu sem ser contada. Mas há quatro anos, quando foram lembrados os 100 anos do naufrágio do Titanic, dois livros em inglês foram lançados: “Titanic The Tennis Story”, de Lindsay Gibbs, e “Starboard at Midnigt”, de Helen Behr.
Este último narra a história de Karl e Helen Behr, avôs da autora do livro. Karl também era tenista, um dos cinco desportistas a bordo do Titanic. Ele sobreviveu ao naufrágio e encontrou-se com Dick Williams no bote salva-vidas, chamado Carpathia. Eles tornaram-se amigos e até disputaram Copa Davis juntos pelos Estados Unidos.
Os outros três desportistas no Titanic eram Dai Bowen e Leslie Williams, pugilistas, Charles Eugene Williams, campeão do mundo de squash. Esses não tiveram a mesma sorte de Karl Behr e Dick Williams e morreram no desastre. Dos 2.200 passageiros, apenas 700 sobreviveram para contar a história.