25 outubro 2016

23 outubro 2016

Sem Tapete

O Fluminense sem o STJD é como...
Romeu sem Julieta
Isolda sem Tristão
Dona Flor sem Vadinho e Theodoro
É Sinatra sem voz
Paulinho sem Viola
Rio de Janeiro sem Cristo Redentor
Paris sem torre
Londres sem pub
Franca sem basquete
Hortência sem mira
Dostoievski sem editor
Goiabada sem queijo
Guga sem sorriso
Temer sem golpe
Rembrandt sem dedo
Claudinho sem Bochecha
Pizza sem ketchup
Caruru sem quiabo
Acarajé sem vatapá
Elvis e Trump sem topete
Rita Cadillac sem bunda
Fonte:

21 outubro 2016

19 outubro 2016

Vira Casaca

Indignação foi o mínimo. Teve agressão verbal, ameaça de linchamento, caras viradas, ofensas na internet.
- Mudou de time?
- Ficou louco?
- Tá de brincadeira?
- Vá to…
Ele nem aí. Resolveu. Apareceu na rua da vila, sábado de manhã, com a camisa do maior adversário. Sentou-se no boteco, como sempre. Os amigos riram, perguntaram se era trote, se era aposta, o que era.
- Nada. Mudei de time.
Todos sempre torceram para o time que agora ele abandonava. Iam aos jogos. Eram sócios. Filiaram-se à torcida organizada. Álbuns, camisas, bandeiras, cartões de crédito, até a latinha de cerveja. Depois do espanto, certificaram-se de que era sério. Houve um empurra-empurra barulhento, cadeiras levantadas, o pessoal da rua teve que intervir.
Ele se sentou de novo, sozinho. O pessoal foi embora olhando pra trás, vendo-o no bar com a camisa odiada.
Um deles não se aguentou. Quis correr de volta pro bar, com raiva. Os outros o detiveram. Ele, com lágrimas, vermelho, o pescoço inflado de veias, gritava:
- Não tá feliz, muda de sexo, porra! A gente aceita! Mas de time, não! Pelo amor de Deus!
Domingo a mesma coisa. Ele, na janela, vendo todos o apontarem.
Pôs a camisa adversária e foi pro bar.
Outro corre-corre. Ligaram pro dono ameaçando pôr bomba no estabelecimento. Preocupado, o garçom pediu a ele que se retirasse.
Ele parou na porta, fumou, alisou a camisa e seguiu pra casa.
Durante a semana, só silêncios e agressões virtuais.
Na sexta à noite, a mulher o procurou.
- Vou embora.
- Quê?
- Vou embora. Encontrei outra pessoa.
- Outra pessoa? Que história é essa?
- …
- Seu ex-namorado?
- Não.
- O cara da autoescola? Eu vi ele se jogando em cima de você durante a aula.
- Não.
- …
- É a Cleide.
- Como a Cleide?!
- A Cleide. Do salão.
- A Cleide é mulher! Tá doida?
- Não. É do que eu gosto. Sempre desconfiei. Assumi.
- De mulher? Você gosta de mulher?
- Gosto. A Cleide também. Resolvemos morar juntas.
Ela saiu e ele ficou atônito.
Não dormiu.
No sábado cedo apareceu no bar com a camisa do antigo time. Os amigos olharam, se aproximaram devagar, perguntaram, foram se certificando, até terem certeza.
Deram-se um abraço enorme.
- É assim que se fala!
- Ê, companheiro!
- Sempre unidos!
- Brinda aqui!
- Quase nos matou com essa doideira!
Sentaram-se. No silêncio dos goles aproveitou e disse.
- Mas tem uma coisa.
O olhar de todos, mãos nos copos, copos nas bocas.
- Vou mudar de sexo.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

17 outubro 2016

Mané Garrincha

O ANJO DE PERNAS TORTAS
(Vinícius de Moraes)
A um passo de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento,
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento,
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: – Gôooool!
É pura imagem: um
G que chuta um O
Dentro da meta, um
L. É pura dança!

15 outubro 2016

Boca do Gol

Primeiro foi um cordão de ouro. Ele chegou pra jogar, na mesma bicicleta de sempre, e a corrente reluzia no pescoço.
Aquilo era uma roça, o campo esburacado, com tufos de capim, formigueiros, barranco na lateral. Eram pedreiros, chapas, balconistas, entregadores, marceneiros, desempregados. Que raio de cordão era aquele? Mas ninguém perguntou.
Depois, o relógio. Brilhava no sol, e todo mundo olhando.
Ele trocava de roupa atrás do muro, empacotava tudo num saco, amarrava e deixava no canto da trave adversária, mudando de lado depois do intervalo: centroavante, sempre via onde estava o embrulho.
Mais um tempo, chegou de moto. Uma cinquentinha zero. Espanto, dúvidas, inveja. O ronco, o cheiro de nova, a fumacinha no cano.
E por que não perguntavam?
Uma, porque ele era enorme, forte, carrancudo. Só sorria quando metia gol: o teclado falho, cheio de bemóis.
Outra, por isso mesmo: ele fazia muitos gols. Todo jogo era um, dois, três. E isso garantia a cerveja e o bicho que o patrocinador do time (um empresário que fora pobre e jogara nos mesmos campos na juventude) pagava no final.
E continuou: um dia, depois do gol, sorriu e os dentes estavam todos lá, brancos, brancos, com as cintilações das obturações de ouro.
E roupas, sapatos, óculos escuros, perfume, pulseira, anéis – tudo amarrado no pacote ao lado do gol.
Durante a semana, nem emprego direito ele tinha: fazia bico de todo tipo, por conta própria ou pros outros. Sempre meio sujo, desarrumado, calado, sozinho no puxado de amianto e taipa.
Só no domingo o mistério. E o silêncio.
Até que chegou de carro! Um Corcel azul claro, seminovo, com vidro fumê e rádio AM/FM, pneu com faixa branca, antena no teto.
Aí não deu pra segurar. O patrocinador o chamou no canto – temia que ele estivesse mexendo com droga, roubando, alguma encrenca.
Perguntou. Ele não respondeu.
Pressionou. Ele calado.
Deu o ultimato: “Ou explica ou está fora do time!”.
Os jogadores em volta. Temiam perder o artilheiro, mas também já estavam desconfiados com que rolo ele estaria se metendo.
Ele já tinha trocado de roupa e guardado os pertences – agora era uma malinha de mão, de couro.
Virou-se, botou de novo a roupa, entrou no carro e sumiu.
Nunca mais apareceu nos jogos nem na cidade.
O time nunca mais venceu.
E o patrocinador nunca mais viu sua esposa.
Aliás, dentista.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

13 outubro 2016

PEC 241


PEC - Proposta de Emenda Constitucional

11 outubro 2016

Teias

=As leis são teias de aranha pelas quais as moscas grandes passam e as pequenas ficam presas=
Honoré de Balzac (1799-1850), político e escritor francês.

09 outubro 2016

Artificial

Zezonhão era manco. Perdeu o pai cedo. Tinha aquele cuspe grosso, de empoçar o terrão. Lateral esquerdo.
Jucanço, alto, cabeça oca. Nunca viajou. Gostava de canja e de zona. Goleiro.
Lubinito ainda é açougueiro. Aprendeu espanhol. Fedia como um sarnento e não falava nada. Centroavante.
Nhê era espírita e faxineiro. A voz fininha, fininha. Vinha de carroça, dando milho na estrada. Meio-campo.
Minínu ninguém sabia de onde era. Bebeu raticida quando a mulher se foi, mas deu sorte. Branquelo. Tocava gaita. Zagueiro.
São os que sobraram. Um dia, no caminhão que tombou, morreram seis. O time acabou.
Às vezes se veem por acaso, na quermesse, luzinhas chinesas, pastéis, cachaça, funk, gritos. Mas se evitam, afastam-se, sozinhos.
Não era nada. Um timinho de jogar aos domingos nas roças que durou algum tempo. A maioria nem se lembra.
Um ou outro, bem mais velho, é que, quando os vê por ali, nas barracas, fala de partidas, vitórias, derrotas. O Lubinito, de esquerda…. Teve uma vez um clássico…. No ângulo, no ângulo! – e o Jucanço pegou!. Um que eu não lembro o nome, que espanava tudo….
Mas, quando estouram os rojões, todos param pra ver a chuva de cores e de fumaça – e o assunto acaba.
Assim como o time.
Como os fogos.
Como a vida.
E como este texto.
De repente.
Texto de Luiz Guilherme Piva, autor de “Eram todos camisa dez” (Editora Iluminuras).

07 outubro 2016

Portuguesas

LOJA DE SAPATOS
O Manuel foi, na segunda-feira, a uma loja de sapatos. Escolheu, escolheu e acabou se decidindo por um par de sapatos de cromo alemão.
O vendedor entregou o sapato, mas foi logo advertindo-o:
- Senhor, estes sapatos costumam apertar os pés nos primeiros cinco dias.
- Não tem problema. Eu só vou usá-los no domingo que vem.
NO SEXO
- Manuel, você gosta de mulher com muito seio?
- Não, pra mim dois já tá bom.
NO TRABALHO
Conversa entre o empregado e o chefe, ambos portugueses:
- Chefe, nossos arquivos estão superlotados, posso jogar fora os que tem mais de 10 anos?
- Sim, mas antes tire uma cópia de todos.
NO CHUVEIRO
Manuel está tomando banho e grita para Maria:
- Ô Maria, me traz um shampoo.
E Maria lhe entrega o shampoo. Logo em seguida, grita novamente:
- Ô Maria, me traz outro shampoo.
- Mas eu já te dei um agorinha mesmo, homem!
- É que aqui está dizendo que é para cabelos secos e eu já molhei os meus.
INFORMATIZADO
Manoel Joaquim dos Santos, nascido em Trás-dos-Montes, no extremo bem extremo Leste de Portugal, ganhou seu primeiro lápis de colocar na orelha quando tinha 2 anos. Aos 15 anos, já no primário, ganhou sua primeira caneta-tinteiro de orelha. Aos 32 anos, descobriu que caneta também servia para escrever.
Hoje, já informatizado, está com orelha de abano, por causa do peso do mouse...
SORTE
O português vê uma máquina de Coca Cola e fica maravilhado.
Coloca uma fichinha e cai uma latinha. Coloca 2 fichinhas e caem 2 latinhas. Coloca 10 fichas e caem 10 latinhas. Entusiasmado, ele vai ao caixa e pede 50 fichas.
Diz então o caixa:
- Desse jeito, o senhor vai acabar com as minhas fichas!
- Não adianta, eu não paro enquanto estiver ganhando.
SEGREDOS
O português passava em frente a um chaveiro quando viu uma placa:
'Trocam-se segredos'. Parou abruptamente, entrou na loja, olhou para os lados e cochichou para o balconista:
- Eu sou gay, e você?!
SOCIEDADE
Vocês sabem porque sociedade entre portugueses sempre dá certo?
Porque um rouba do outro e deposita na conta conjunta!
DOIS BASTAM
- Você sabe quantos portugueses são necessários para afundar um submarino?
- Dois. Um bate na porta, o outro abre!
SELF-SERVICE
- Como é restaurante por quilo de português?
- O cliente é pesado na entrada e na saída.
NO SUPERMERCADO
- Por que o português, cada vez que compra uma caixa de leite, abre-a ali mesmo, no supermercado?
- Porque na caixa está escrito: 'Abra aqui'.
EXAME LABORATORIAL
Maria, a mulher do Manuel, foi fazer exame de fezes e colocou a latinha com o conteúdo do exame em cima do balcão.
A recepcionista solicitou:
- Dá prá senhora colocar o nome, por favor?
A lusitana não hesitou e escreveu: MERDA.
NO GINECOLOGISTA
Maria vai ao ginecologista reclamando que não consegue engravidar.
- Por favor, tire a roupa e deite-se naquela maca - diz o médico, preparando-se para examiná-la.
E ela, indecisa:
- Mas, doutor! Eu queria tanto que o filho fosse do meu Manuel!
RELAÇÃO SEXUAL:
- Senhor Manoel, acha que sua esposa faz sexo com o senhor por amor ou por interesse?
- Só pode ser por amor, ô pá. Ela nunca mostrou o menor interesse.

05 outubro 2016

Zagueiro Pipi

Fim da cerimônia, ele se aproximou e cumprimentou:
– Senhor Sebastião! Prazer enorme em conhecê-lo.
Era o novo presidente do time, na solenidade de posse, cumprimentando o zagueiro central, jogador mais antigo do elenco, titular há mais de dez anos, eterno capitão, respeitado na cidade e na redondeza como o melhor de sua posição em todas as épocas.
– Eu sou o Dr. Leopoldo, Sebastião. Mas pode me chamar de Léo.
Alto, negro, forte, ele apertou firme a mão do presidente e falou baixo e grave:
– Muito prazer, Elpídio Silva Soares.
– Hein?
– Muito prazer.
– Não.
– ?!...
– Como disse?
– Muito prazer.
– Não!
– Não o quê?
– O nome. Qual nome você disse?
– Elpídio Silva Soares.
– Não é Sebastião?
– Não. É Elpídio.
A confusão ocorreu porque, antes do início da cerimônia, o presidente que deixava o cargo citou no seu discurso, mostrando–os para o que tomava posse – que nada conhecia do time e nem de futebol: era um jovem empresário com pretensões políticas –, um a um os jogadores do time.
Foi falando os nomes e as posições de cada um. Deixou para o final o zagueiro, dada sua importância. E fez elogios especiais, na linguagem empolada que costumava usar nessas ocasiões:
– Por fim, ali está o principal jogador de nossa plêiade, responsável maior pelas nossas glórias inumeráveis. Líder e referência máxima da nossa agremiação aqui e alhures, urbi et orbi. Nosso zagueiro, capitão, comandante, a fortaleza, o baluarte de nossa defesa, o nosso inexpugnável bastião!
As palmas irromperam fortes. O zagueiro se levantou, agradeceu e sentou-se de novo.
Foi por isso que, no fim da cerimônia, o novo presidente, percebendo que a amizade com o zagueiro o ajudaria no início de sua gestão, se aproximou para cumprimentá-lo. E daí sua estranheza.
– Não é Sebastião?
– Não, senhor.
– Mas… O apelido…
– É Pipi, senhor. Ao seu dispor.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

03 outubro 2016

Tostão

– O segundo melhor jogador de futebol da história!
Foi o que disse o homem simples, trabalhador braçal da pousada, para surpresa do casal brasileiro.
Ocorreu de verdade. Em 1991. Numa pousada pequena e charmosa num lugarejo de mil habitantes na França.
O casal brasileiro de professores compartilhava a grande mesa de jantar com professores, escritores, advogados de vários países. Na mesma mesa sentavam-se as proprietárias e o funcionário do lugar.
À pergunta sobre sua origem, o casal respondeu: “Brasil”.
Indagaram se eles eram do Rio de Janeiro, Brasília, Recife, São Paulo. Disseram que não, que eram de outra cidade, chamada Belo Horizonte. Ninguém conhecia.
Mas o funcionário levantou o rosto da sopa e disse:
– Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais?
– Sim, isso mesmo! Como você sabe?
Ele sorriu, orgulhoso e feliz:
– É a cidade do Tostão!
E arrematou com a frase lá do início.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

01 outubro 2016

Desimportante

|
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
|
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
|
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
|
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
|
Agora estão me levando
Mas já é tarde...
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
|
(Bertolt Brecht)
;