– Senhor Sebastião! Prazer enorme em conhecê-lo.
Era o novo
presidente do time, na solenidade de posse, cumprimentando o zagueiro central,
jogador mais antigo do elenco, titular há mais de dez anos, eterno capitão,
respeitado na cidade e na redondeza como o melhor de sua posição em todas as
épocas.
– Eu sou o Dr. Leopoldo, Sebastião. Mas pode me chamar de
Léo.
Alto, negro,
forte, ele apertou firme a mão do presidente e falou baixo e grave:
– Muito prazer, Elpídio Silva Soares.
– Hein?
– Muito prazer.
– Não.
– ?!...
– Como disse?
– Muito prazer.
– Não!
– Não o quê?
– O nome. Qual nome você disse?
– Elpídio Silva
Soares.
– Não é Sebastião?
– Não. É
Elpídio.
A confusão ocorreu porque, antes do início da cerimônia, o
presidente que deixava o cargo citou no seu discurso, mostrando–os para o que
tomava posse – que nada conhecia do time e nem de futebol: era um jovem
empresário com pretensões políticas –, um a um os jogadores do time.
Foi falando os
nomes e as posições de cada um. Deixou para o final o zagueiro, dada sua
importância. E fez elogios especiais, na linguagem empolada que costumava usar
nessas ocasiões:
– Por fim, ali está o principal jogador de nossa plêiade,
responsável maior pelas nossas glórias inumeráveis. Líder e referência máxima
da nossa agremiação aqui e alhures, urbi et orbi. Nosso zagueiro, capitão,
comandante, a fortaleza, o baluarte de nossa defesa, o nosso inexpugnável bastião!
As palmas
irromperam fortes. O zagueiro se levantou, agradeceu e sentou-se de novo.
Foi por isso que, no fim da cerimônia, o novo presidente,
percebendo que a amizade com o zagueiro o ajudaria no início de sua gestão, se
aproximou para cumprimentá-lo. E daí sua estranheza.
– Não é
Sebastião?
– Não, senhor.
– Mas… O
apelido…
– É Pipi, senhor. Ao seu dispor.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)