Foi o que disseram em casa. Tinha torneio no outro estado,
600 quilômetros, na roça, nem celular pega lá, ônibus já alugado e tudo.
Hospedagem reservada, tinham que ir.
Mas era farra,
óbvio. E pesada. Numa fazenda mais ou menos perto. Bebidas, mulheres,
churrasco, batuque, e até um campinho de pelada pra se distraírem – mas que
bola que nada!
Sexta à noite, sábado o dia todo, domingo direto, segunda
no embalo, mas na terça estavam acabados. Não aguentavam mais.
Para desopilar os
excessos, alguns foram para o campinho, começaram a tocar a bola, os outros
vieram, formaram os times de dentro e de fora e engataram as peladas.
A outra turma da festa estranhou. As mulheres também.
Carne sobrando, bebida congelando, o pessoal do samba com os instrumentos
encostados. O clima ficou estranho. Foram lá tirar satisfação. História é essa
de futebol? Ano inteiro é isso, agora é Carnaval!
Eles nem aí. Já era
quase meio-dia. Os rachas estavam esquentando. Cada um jogando mais do que se
fosse campeonato. Só paravam pra água e pro xixi.
O organizador – alugou a fazenda, comprou tudo, arranjou
as companhias e os sambistas, preparou o churrasco – se alterou. Entrou em
campo, pegou a bola e enfiou-lhe a faca. O chiado dela se esvaziando diante dos
olhos e suores e respirações e bocas abertas dos jogadores era como o de uma
cobra invisível no meio do mato: de espanto e medo, ninguém se mexia.
Com a faca na mão e
o couro murcho debaixo do braço, proclamou: “futebol é futebol, sacanagem é
sacanagem! Aqui ninguém vai avacalhar!”.
Concordaram. Ele tinha razão.
E assim foi que
esticaram a folia também na terça gorda.
Em respeito ao regulamento.