07 maio 2019

IRE-1251


Sá Marina
Descendo a rua da ladeira
Só quem viu, que pode contar
Cheirando a flor de laranjeira
Sá Marina levei pra dançar
De saia branca costumeira
Gira o sol, que parou pra olhar
Com seu jeitinho tão faceira
Fez o povo inteiro cantar
Roda pela vida afora
E põe pra fora essa alegria
Dança que amanhece o dia pra se cantar
Gira, que essa gente aflita
Se agita e segue no seu passo
Mostra toda essa poesia no olhar
Deixando versos na partida
E só cantigas pra se cantar
Naquela tarde de domingo
Fez o povo inteiro chorar
E fez o povo inteiro chorar
Quando Wilson Simonal gravou “Sá Marina”, em 1968, todo mundo imaginou aquela mulher que descia a rua da ladeira, com sua saia branca costumeira, e que cheirava a flor de laranjeira…
Essa canção, uma letra de Tibério Gaspar para uma música de Antonio Adolfo, relata uma paixão de Tibério por sua professora no interior do Rio de Janeiro, quando ele tinha 8 anos.
A história é contada no volume 1 do livro “Então, foi assim” de Ruy Godinho, sobre a professora que morava na cidade de Anta-RJ:
“Na cidade morava uma professora chamada Brasilina, uma mulher loura, bonita, desejada pelos homens e odiada pelas mulheres. Ela morava na Rua da Ladeira. E quando ela saía de casa descendo a rua, os pudores se reviravam. Enquanto os homens babavam, as mulheres cuspiam na calçada, batendo janelas. ‘Eu amava essa mulher’, afirma um saudoso Tibério. ‘Uma vez engendrei um plano audacioso. Eu tinha uns oito anos. Aproveitando o fato de minha mãe ser amiga dela, pedi que me levasse junto quando fosse visitá-la. E assim aconteceu após alguns dias. Minha mãe chamou-me e fomos pra casa de Brasilina. Chegando lá, pus em prática o meu plano de ‘assédio sexual’. Propositalmente esqueci um pente no sofá da sala na hora de ir embora. Minha intenção era voltar à noitinha para resgatá-lo. Tudo certo. Fiz tudo como planejara e à noite dei uma escorregada até a casa da professora e…
Tibério, tímido, não teve coragem. 
Ficou plantado na porta. 
O pente ficou lá, esquecido. 
Um belo dia, Brasilina foi embora. Resolveu morar em Niterói, e a vida de Anta voltou a ter a monotonia de sempre…
Foi assim que Brasilina inspirou Tibério a fazer a letra da canção, só mudando o nome da musa para Sá Marina, que era mais musical.
Conta Tibério ainda sobre a canção:
Interessante é que anos mais tarde, depois que a música fez sucesso, eu fui procurado pelo programa de Flavio Cavalcanti. O programa dele tinha o quadro “Os compositores e suas musas”. Daí ele me chamou para falar sobre Sá Marina. Contei que não sabia com precisão onde morava, sabia apenas que ela havia se mudado para Niterói. A produção do programa foi atrás de Brasilina. Ela falou que conhecia a música, que tinha adorado tudo que estava sendo falado, mas que não queria ir ao programa, não queria que tirassem fotografias e que nem a filmassem. “Quero que Tiberinho continue a ter a mesma ideia de mim como eu era antigamente. Agora estou velha e não quero que ele me veja assim…”
E assim surgiu um dos maiores, se não o maior sucesso de Wilson Simonal. A canção teve mais de 300 gravações e ainda dá para imaginar a moça descendo a rua da ladeira, provocando rebuliço naquela cidade do interior.