De noite, bebida, farra, zona.
Isso era também durante a semana.
Descarregava caminhão durante o dia, corria uns dez quilômetros até em casa no
fim do expediente (“pra relaxar”), tomava banho e caía na vida.
Magro e troncudo, canela fina e dura,
cabelo empastado, calado, sempre calmo, idade imprecisa, parecia indestrutível.
Mas domingo passado sentiu. Deu um
pique na lateral, a fisgada o pegou da coxa até as cadeiras, ele pôs a mão na
cintura, parou, levantou o outro braço pedindo ajuda, e ficou ali, como um
bule, travado.
Cercaram-no. Mudo, fechou os olhos,
tentou dar um passo, virar o corpo, agachar – nada.
Quiseram carregá-lo mas ele recusou.
Respirou fundo, esperou a dor passar, foi estourando o tempo, a pelada acabou.
Já escuro, só alguns ainda o
aguardavam, a dor sumiu, aceitou o gelol nas costas, conseguiu se mover, bateu
o pé no chão, sentiu firmeza, ajoelhou-se, deu um pulinho, disse que já estava
bom e propôs:
– Bora lá, vamo pro jogo!
Não quiseram. Nem tinha número.
Recomendaram que ele fosse pra casa. E que moderasse o ritmo; não dava pra
seguir daquele jeito.
Foram embora. Em casa, decidiu.
Largaria o trabalho de chapa. Aquilo ia acabar prejudicando seu futebol no fim
de semana.
Tomou um banho e seguiu pra zona.
(Texto
de Luiz Guilherme Piva)