O
sacristão, que nunca ia a jogo nenhum, mas era devoto, foi ao campo com a
imagem do santo nas mãos.
Ficou quieto, passando a mão na cabeça do seu
protetor.
O
pessoal achou esquisito mas fez que não ligava.
Só que a irritação se instalou com o gol
adversário.
Depois
outro. Dois a zero.
Começaram a xingar o coitado, empurrá-lo.
Ele,
com os olhos vermelhos, ergueu a imagem pros céus e começou a cantar: “onde
houver ódio que eu leve o amor”, três a zero!, veio o primeiro tapa –
ele balançou e aumentou a voz: “onde
houver ofensa que eu leve o perdão”,
os cascudos violentos surgiram aos montes, pontapés, ele gritava “onde
houver discórdia que eu leve a união”,
quatro a zero! Até que virou chacina, ele caído, abraçado ao santo, a polícia
chegou e o pessoal correu – mas ainda teve o quinto gol: cinco a zero!
São Francisco, zebra total, classificado! O
time da casa, favoritíssimo, eliminado.
Dois
cabos carregaram o coitado cheio de sangue – com o santo grudado ao peito – e
contam que ele ainda balbuciou que perdoava para ser perdoado e que ali
começava sua vida eterna.
(Texto
de Luiz Guilherme Piva)