11 setembro 2015

O Beque

Vinte e poucos anos, mas pequeno como um triz.
Magro como uma fresta.
Fraco feito a gratidão.
Mas queria ser beque.
O chute era murcho, como se dado debaixo d’água.
A lentidão era a de uma fuga no sonho.
Enxergava em braile.
Mas queria porque queria.
Desestimulavam-no.
Só que ele era teimoso, parecia um trauma.
Ia aos treinos.
Ficava ali no barranco, ao lado do técnico.
Que teve dó – “ele tem a bondade de um idiota”, dizia! – e o escalou no jogo do infantil contra o bairro vizinho.
Jogo de festa.
Não valia nada.
E a molecada adversária deu um vareio: 10 a 0!
Tudo, aos risos próprios e de todos, em cima do “beque esquisito”.
Mas ninguém falou nada com ele.
Que estava incomparavelmente feliz.
Porque felicidade não tem metáfora.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)