26 setembro 2016

O Cobrador

Sempre uma desculpa: “furou o pneu da bicicleta”, “a fila estava muito grande”, “o cliente demorou a me atender”, “foi difícil achar o endereço”, “ninguém sabia quem era o cara”.
Mas era a pelada.
Ele saía pra fazer cobrança e não resistia. Via um campinho, um espaço qualquer em que jogavam bola, e logo parava a bicicleta, amarrava a pastinha de notas no bagageiro e entrava no jogo. No mínimo uma hora.
Chegar suado era normal: rodava a cidade pedalando. O lote grande de cobranças também justificava alguma demora.
Mas os atrasos estavam aumentando. As desculpas se repetindo. E o pior: os resultados das cobranças eram baixos, quase nulos.
Da última vez voltou só à noite. A firma já estava fechada. De manhã o chefe o chamou pra demiti-lo.
Ele abriu o jogo.
Era um campinho lindo, num bairro que ele não conhecia. Grama natural, bica do lado, traves de bambu com travessão, farrapos de rede, sombra farta, bola nova, molecada boa de bola, faltava um pra inteirar – ele não poderia impedir o jogo.
E mais, chefe, foi um jogaço! Escurecendo, empatado em oito a oito. Quem fizesse ganhava.
Não podia parar. Questão de honra. Ninguém enxergava mais nada, mas nem pensava em parar.
E eu fiz o gol decisivo!
Foi uma festa! Abraços, sanduíches, guaraná, risos encharcados de suor, todo mundo junto, dos dois times.
Mas o senhor está certo.
Onde eu assino?
O chefe se levantou, rodou a sala com as mãos nas costas. Entregou a ele o papel para que assinasse. Recolheu a pastinha com as cobranças – nenhum recebimento, como sempre.
Sozinho na sala, sentiu dó do garoto; pensou que a demissão era um castigo exagerado.
Mas disse para si mesmo que a vida é dura.
Que a gente precisa aprender na dor e na perda.
E fingiu que estava coberto de razão.
Mas estava arrasado.
Queria largar tudo e correr pro campinho.
Chamar o garoto para ir com ele.
Chupar manga, lavar o rosto na bica, comer pão com mortadela e, acima de tudo, jogar bola livre, sem regras, sem hora, até anoitecer.
Isso foi há muito tempo.
Ele ficou mais maduro, mais velho.
E até hoje carrega o pesar em algum nó dolorido na alma.
Mas finge que não sente.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

23 setembro 2016

21 setembro 2016

Bertolt Brecht

Todo mundo chama de violento a um rio turbulento, mas ninguém se lembra de chamar de violentas as margens que o aprisionam.
Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.
 “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.
Muitos juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue induzi-los a fazer justiça.
Pergunte sempre a cada ideia: a quem serves?
Não basta ter sido bom quando deixar o mundo. É preciso deixar um mundo melhor.
Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram.
Bertolt Brecht (1898-1956), dramaturgo e poeta alemão.

19 setembro 2016

A Bola

O livro “Uma escola em jogo” (Editora Sesi), de José Santos e Rogério Correa, trata de muitas modalidades de literatura e de esporte.
Na parte relativa ao futebol, há uma constatação brilhante: é possível encontrar de tudo no lixo, menos uma bola de futebol.
É verdade.
Ninguém joga fora uma bola de futebol.
Porque a bola sempre será usada até se desintegrar, até esfarelar, até desaparecer.
E digo mais. Não só não se joga bola no lixo como do lixo retira-se de tudo para servir de bola: lata, cabeça de boneca, sapato, coco, caixa, roupa, etc.
Coisas que, depois de assumir esse papel, também serão usadas até se desintegrarem, até esfarelarem, até desaparecerem.
Porque a bola de futebol – como parte que é do ser humano – foi criada por Deus.
Do pó.
E, tal como o ser humano, não tem senão um destino: só ao pó voltará.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

17 setembro 2016

Majestade

O campinho ficava bem no alto do morro. Meia hora de subida. Chegavam lá cansados.
Mas valia a pena. Era um platô pequeno, com grama natural, com as traves de bambu que eles mesmos haviam colocado.
Só que em volta era tudo morro. Não tinha lateral nem tiro de meta nem escanteio. Um palmo ou dois depois dos limites do campo eram as inclinações – se a bola chegasse ali, rolaria até o sopé e fim de jogo.
O jeito era jogar como eles faziam. Toques curtos, suaves. Aproximações, dribles secos, domínio perfeito.
Pra fazer gol tinham que conduzir ou tabelar até as traves e, com o pé em cima da bola, fazê-la ultrapassar a linha e puxá-la.
Isso criava um cuidado, uma delicadeza de movimentos que lembravam o balé.
E, como no balé, eles jogavam em silêncio.
Só o vento, um pássaro, um chiado, vindos de algum lugar distante, formavam a música inaudível que eles dançavam.
Fui lá uma vez. Não quis jogar, temendo deixar a bola escapar e acabar com o jogo. Fiquei só olhando.
Admirei de início o domínio que eles tinham sobre a bola.
Mas logo percebi que não era bem isso.
Na verdade, era a bola quem os comandava.
Era ela quem imperava, ditava o ritmo, dirigia os movimentos.
Ela era a majestade.
Os meninos eram seus súditos.
O campinho, um tipo de palácio.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

15 setembro 2016

Renovação

A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. Chega a viver cerca de 70 anos. Porém, para chegar a essa idade, e por volta dos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Nessa idade suas unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem mais agarrar as presas, das quais se alimenta.
O bico, alongado e pontiagudo, se curva. Apontando contra o peito, estão as asas, envelhecidas e pesadas, em função da grossura das penas, e, voar, aos 40 anos, já é bem difícil! Nessa situação a águia só tem como alternativa deixar-se morrer... ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar 150 dias. Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e lá recolher-se, em um ninho que esteja próximo a um paredão. Um lugar de onde, para retornar, ela necessite dar um voo firme e pleno.
Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando, corajosamente, a dor que essa atitude acarreta. Espera nascer um novo bico, com o qual irá arrancar as suas velhas unhas. Com as novas unhas ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses, ‘renascida’, sai para o famoso voo de renovação, para viver, então, por cerca de mais 30 anos.
Muitas vezes, em nossas vidas, temos que nos resguardar, por algum tempo, e começar um processo de renovação. Devemos nos desprender das (más) lembranças, (maus) costumes e outras situações que nos causam dissabores, para que continuemos a voar. Um voo de vitória. Somente quando livres do peso do passado (pesado), poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz. Destrua, pois, o bico do ressentimento, arranque as unhas do medo, retire as penas das suas asas dos maus pensamentos e alce um lindo voo para uma nova vida.
Um voo de vida nova e feliz.

13 setembro 2016

Timemania

Maiores Prêmios de 7 Acertos na Timemania(Cidade do Ganhador)
352: R$ 26.583.679,64 (São Paulo-SP;Set/2012)
801: R$ 24.609.072,86 (Júlio Mesquita-SP;Nov/2015)
628: R$ 22.077.129,12 (São Gonçalo dos Campos-BA;Set/2014)
552: R$ 16.666.082,79 (São Paulo-SP;Mar/2014)
585: R$ 13.909.339,59 (Curitiba-PR;Jun/2014)
896: R$ 13.115.002,46 (Fortaleza-CE;Jun/2016)
669: R$ 12.206.341,77 (Santos-SP;Dez/2014)
141: R$ 11.414.871,45 (Americana-SP;Set/2010)
241: R$ 10.639.291,60 (Morada Nova-CE;Ago/2011)
069: R$ 09.952.081,77 (Brumado-BA;Jun/2009)
928: R$ 09.839.769,85 (Montes Claros-MG;Set/2016)

11 setembro 2016

Goleada

A palavra goleada, no futebol, significa uma grande quantidade de gols marcados por uma equipe numa só partida, contra nenhum ou poucos gols da equipe adversária.
A maior goleada registrada na história do futebol aconteceu em jogo válido pela primeira divisão do Campeonato de Madagascar de 2002, na África. Na oportunidade, a equipe do AS Adema venceu o Stade Olympique L’Emyrne (SOE), campeão nacional um ano antes, pelo incrível placar de 149 a 0.
De acordo com agências internacionais, o que aconteceu na época foi que o time do SOE fez um protesto devido a erros de arbitragem que prejudicaram a equipe no campeonato. A pedido do técnico, Ratsimandresy Ratsarazaka, os jogadores, incessantemente, começaram a fazer gols contra a própria baliza. A cada reinício de jogo, a cena se repetia, até chegar à absurda conta de 149 gols no jogo.
Todavia, a petulância de Ratsarazaka acabou gerando uma consequência não agradável ao Stade Olympique. Logo após o jogo, a Federação Malgaxe de Futebol puniu o treinador com uma suspensão de três anos. Já os atletas Mamisoa Razafindrakoto, Manitranirina Andrianiaina, Nicolas Rakotoarimanana e Dominique Rakotonandrasana também foram suspensos, só que apenas até o fim da temporada.
Mesmo sendo um recorde mundial em partidas de primeira divisão, a FIFA considera o resultado dúbio, devido as circunstâncias em que o placar foi construído.

07 setembro 2016

Pão e Circo

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05 setembro 2016

03 setembro 2016

Liberte-se

A moda, por meio da força atribuída por ela à mídia, impõe determinado padrão estético, que é legitimado socialmente como o único que é belo e aceitável. Cria-se uma expectativa coletiva sobre o corpo e sobre como nos vestimos, que é violenta para aqueles que não possuem o padrão corporal para o qual a moda é vendida ou não possuem renda para obter o que é ditado. Esses são marginalizados e estigmatizados em um processo de exclusão social.
Liberte-se da violência simbólica da moda!

01 setembro 2016