29 julho 2014

Cabide de Emprego

Cabide De Emprego
(Dicró)
Se não fosse o crime, muita gente morria de fome
O vagabundo é quem garante o pagamento dos homens
Porque um preso dá vários empregos, você pode acreditar
É um polícia pra prender
Um delegado pra autuar
Um promotor pra fazer a caveira
Um juiz pra condenar
Um carcereiro pra tomar conta
E um advogado pra soltar
Se não fosse o crime, muita gente morria de fome
O vagabundo é quem garante o pagamento dos homens
Eu não faço apologia, mas infelizmente é verdade
Existe o bem e o mal
Em todo canto da cidade
Quem nunca foi assaltado, por favor, levante o dedo
A maré esta tão braba, que eu já ando até com medo

20 julho 2014

Catimbeiro

O negócio dele é fazer cera.
Só entra no fim, quando o time está ganhando e precisa segurar o jogo.
Orgulha-se: “administro a partida!”, diz, como quem apresenta uma profissão ou cargo complexo.
Demoras na cobrança de faltas e laterais, quedas com dores, empurra-empurra, reclamações, toquinhos, paradas para arrumar as meias e as chuteiras, simulações – a coleção completa.
Usa com enorme competência as expressões e os gestos de quem encarna os personagens e as situações.
Aliás, tal como um ator, prepara-se muito. Ao longo da semana ensaia cenas que podem ser usadas. Muitas vezes divulga entre conhecidos que é dúvida por conta de uma contusão – criando veracidade para atendimentos médicos do domingo.
Nem participa com os demais de toda a preparação normal. Faz com eles o aquecimento, o dois toques, um pouquinho do coletivo. Depois reúne uns auxiliares e começa o ensaio: trombadas, gritos, socos, faltas de ar, tonturas, caminhadas arrastadas, toquinhos inúteis pra trás e pros lados.
Chega a crer em muitas das falsas contusões que sofre nos jogos – a ponto de alguns atendimentos médicos urgentes terem se realizado de fato. Só na hora dos exames é que ele e o doutor se lembram.
“Uma vez administrei uma partida histórica…”, e enche de detalhes e orgulho a narrativa pros amigos.
“Quando eu comecei não era fácil…”.
“Meu recorde foram 37 minutos de bola parada, somando tudo – e entrei quando faltavam 20 pra acabar o jogo!”, os olhos dos ouvintes famintos, lábios pendentes.
“Já veio gente de fora pra eu preparar”.
“Pus a bola debaixo do braço e…”.
“Um juiz chegou a me visitar na segunda pra ver se eu estava bem”.
“Cicatrizes, hematomas – acho que é psicológico, meu trabalho é muito verdadeiro”.
“Fora goleiro, não escolho posição”.
E não se limita aos truques clássicos.
Já vomitou em campo; iniciou diálogo com o juiz fingindo transtorno grave (“por favor, que jogo é esse?” e, depois da resposta, “mas é futebol, né?”), o que fez a arbitragem parar tudo, assustada; agarrou-se ao bandeirinha babando no seu ombro por causa de “tontura”; caiu junto com o goleiro adversário dentro do gol e produziu um grande enredamento duplo que exigiu chamar especialistas para soltá-los; furou bolas com estiletes até o jogo acabar por falta delas; fingiu intoxicar-se com a cal numa queda no meio de campo; sofreu cegueira momentânea; combinou com um amigo para atender ao celular no alambrado e chamá-lo alegando que a mãe passava mal: ele atendeu, falou, chorou, os adversários e árbitros o consolaram até que ele recusou a proposta de adiamento da partida: “sou profissional, o jogo tem que continuar”, disse aos soluços; jogou insetos e larvas no gramado para enchê-lo de quero-queros; num ataque perigoso do oponente, deu uma cutelada no pescoço do seu próprio goleiro, que caiu agonizando e a jogada foi paralisada.
Um artista.
Ou, sua própria avaliação, um gênio
Acha que um dia vão reconhecer seu talento à altura.
Um busto, medalhas com seu rosto, nome de sala, alguma coisa.
Mas o que ele mais quer é outra coisa.
Seu sonho é, uma vez só ao menos, iniciar um jogo. Noventa minutos para administrar, reger, comandar, fazendo uso do largo repertório conforme cada situação, ditar o andamento, o tom, o enredo.
O astro central. Do começo ao fim. O maestro. Orquestra e público ao seu controle.
Aposta que quase não haveria jogo. Que tudo se arrastaria sem que nada importante acontecesse.
No apito final, todo mundo estaria absolutamente limpo, seco, inteiro, descansado.
Só ele um caco, estropiado, sujo, marcado, suado, mancando, roxo, arranhado, rasgado, sem fôlego, cuspindo, apoiado nos ombros do médico e do massagista e segurando, realizado, o Ipad de melhor em campo.
Não duvido.
(Texto de LUIZ GUILHERME PIVA)

16 julho 2014

Complexo de Vira-lata

Amigos, vocês passaram o tempo todo da Copa falando de mim: Nelson Rodrigues pra cá, pra lá…
Antes eu era o pornográfico, o reacionário, agora virei técnico de futebol. E me citavam. Todos diziam que tinha acabado o nosso “complexo de vira-lata”. Mas esse complexo que eu descobri pode existir também ao avesso (Freud nem me olha aqui no céu, com uma inveja danada). Mas ele não é apenas o pavor diante dos estrangeiros, a cabeça baixa, o “sim, senhor”, a alma de contínuo. Não.
Esse complexo aparece na submissão à Fifa, lambendo-lhe os pés como cachorrinhos gratos, nas arenas grã-finas. O vira-lata estava ali. Podemos botar uma fitinha cor-de-rosa no vira-lata que ele continua sendo um legítimo vira-lata, cheirando postes e abanando o rabo.
Para nossos jogadores ricos e famosos, o Brasil é a vaga lembrança da infância pobre, humilhada. O país virou um passado para os plásticos negões falando alemão, todos de brinco e com louras vertiginosas. Não são maus meninos, ingratos, não, mas neles está ausente a fome nacional “por um prato de comida,” a ânsia dos vira-latas.
Já disse e repito que, antes, nas Copas do Mundo, éramos a pátria de chuteiras. Hoje, somos chuteiras sem pátria. Fomos infeccionados pelo futebol europeu, mas pela metade; ficamos na dúvida se somos Pelé ou Dunga.
Nesta Copa, só o povo estava de chuteiras, para esquecer os escândalos que lhe mergulharam em cava depressão. Foi diferente de 1950. Lá, sonhávamos com um futuro para o país.
Agora, tentamos limpar nosso presente. Somos uma nação de humilhados e ofendidos, pois o país é dominado por ladrões de galinha e batedores de carteira. E a população queria que o escrete fizesse tudo o que o governo não fez. Mas era peso demais.
O brasileiro não estava preparado para ser o “maior do mundo” em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo, mesmo em cuspe a distância, implica uma grave e sufocante responsabilidade. Além disso, era um time de várzea.
Isso era o óbvio; mas foi ignorado. E quando o óbvio é desprezado, ficamos expostos ao mistério do destino. E um dos fatos óbvios foi o endeusamento do técnico. Felipão era mais importante que o time. E ninguém é mais obstinado do que o sujeito que é portador de um erro colossal. O ser humano acredita mais em seus equívocos do que em suas verdades. O técnico é sempre contra a opinião geral.
Em vez de orientar as vocações dos rapazes, Felipão achou que todos tinham de caber em sua estratégia. O técnico devia ser um reles treinador, quase um roupeiro, humilde diante dos craques. Mas o Felipão os tratava como garotinhos inseguros ou então parecia um “Mussolini” de capacete e penacho. A própria figura do Felipão era deplorável – nervoso e malvestido, quase de pijama, era o retrato físico de nosso despreparo. O único jogador do “passado glorioso” foi Neymar – Didi, Zizinho, Ademir guiavam seus dribles.
Quando o alemão fez o primeiro gol, sentimo-nos diante da verdade de que os próprios jogadores suspeitavam: éramos 11 solitários, nosso time era uma ilusão que parecia realidade por causa de Neymar. Nossa meta não era o gol, era Neymar. Esse jovem gênio nos cegou, e com ele acreditávamos que o Brasil voltaria a seus melhores dias. Mas o Brasil nunca está em seus melhores dias. Não esperávamos uma vitória, mas uma salvação. Só a taça aplacaria nossa impotência diante da zona brasileira – era nossa única chance de felicidade.
E aí começaram as interpretações dos idiotas da objetividade: por que perdemos? Tentam explicar a derrota como uma bula de remédio. Como se a derrota tivesse explicação; toda derrota é anterior a si mesma, ela começa 40 anos antes do nada e vem desabrochar em nossos dias. Mas só podemos entender o que “não” houve. Atrás da derrota, estavam todos nossos vícios seculares: salvacionismo, milagres brasileiros, fé no improviso, vitórias abstratas e derrotas políticas.
Além disso, há entre nós e a loucura um limite que é quase nada. Enlouquecemos diante da Alemanha.
Nessa hora do jogo, a loucura explodiu feito uma libertação. Isso, nossa loucura não foi de Napoleões ou Neros, nossa loucura apareceu como um fundo desejo de parar, de ter sossego. Nos jogadores surgiu a ânsia do fracasso, como uma exaustão diante de tanta incapacidade.
Ao contrário do que disse o Parreira em 2006, de que “não estávamos preparados para perder”, dessa vez estávamos todos preparados para a calamidade e secretamente sabíamos disso. Depois daqueles seis minutos em que houve quatro gols, o absurdo adquiriu uma doce, persuasiva, admirável naturalidade.
Depois de 5 a 0, queríamos perder mais, queríamos espojarmo-nos na derrota absoluta, sentíamos a doce nostalgia do aniquilamento. E aí quem surgiu no estádio? O imponderável Sobrenatural de Almeida passou a dirigir o time como um técnico espectral, um fantasma trapaceiro. Dava até para ver que os alemães tiveram pena de nós, os anfitriões desmoralizados.
Até Felipão fez autocrítica. Mas a autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto.
É isso. Sempre que vai estourar uma catástrofe, o ser humano cai num otimismo obtuso, pétreo, córneo. E perde.
Agora, estamos com uma angústia épica, como uma víbora crispada dentro de nós.
E depois de perdermos para a Holanda por 3 a 0, vimos que não houve derrota – como haver derrota se não tínhamos time? O povo viu no fracasso a confirmação de sua sina de vira-lata e desceu as rampas arrastando os chinelos, como em 1950.
Agora, eis o nosso dilema: ou o Brasil ou o caos. O diabo é que temos a vocação do caos. O Brasil precisa ser feito, e nós não o fazemos. O mal da cultura brasileira é que nenhum intelectual sabe bater um escanteio.
Mas ninguém cresce sem sentir o gosto amargo da vergonha. Sempre fomos condenados à esperança, ansiando por uma redenção pelo futebol, mas pode ser que agora a gente vá assumir a própria miséria, a própria lepra, e isso será nossa salvação.
(Texto de ARNALDO JABOR, no Estadão)

14 julho 2014

ABC da Copa

Alemanha: a seleção que encantou pelo futebol jogado, pela organização ao construir um centro de treinamento na Bahia, e pela simpatia da delegação. Nota mil.
Brasil: um gigante como país-sede, mesmo que não tivesse sido representado à altura dentro de campo. 
C
ristiano Ronaldo: o melhor do mundo foi pouco notado, muito por conta do fraco desempenho português no Mundial.
D
ona Lúcia: será que existe mesmo? Acho que nunca saberemos. Outro D é de David Luiz: quem é o verdadeiro? O dos primeiros jogos ou dos últimos? A conferir...
E
spanha: a até então campeã do mundo sofreu, virou saco de pancadas e deu adeus precocemente sendo uma das decepções da competição.
F
uleco: apesar do nome ter gerado controvérsias antes do Mundial, o simpático mascote foi figurinha carimbada no torneio.
G
olaço do Mundial: do holandês Van Persie logo na estreia ao dar um peixinho voador e encobrir o espanhol Casillas.
H
oward: o goleiro americano fez 16 defesas na partida das oitavas contra a Bélgica e se tornou o recordista na história das Copas.
I
ncrível: sem dúvida foi a lição dada pelos torcedores japoneses, que recolheram o lixo dos estádios após os jogos.
J
uízes, árbitros, assistentes e afins: se na Copa estão os melhores do mundo, isso mostra como vamos mal nesse quesito. 
K
lose: o atacante alemão superou o recorde de gols em Copas que pertencia a Ronaldo, marcando o 16º logo na goleada contra o Brasil por 7 a 1.
L
ágrimas: derramadas em todos os momentos possíveis, muitas vezes criticadas no time brasileiro.
M
ario: o nome de um dos maiores jornalistas da história do Brasil foi emprestado ao Maracanã. Quis o destino que outro Mario, o Gotze, fizesse o gol do título no estádio.
N
euer: o goleiro alemão, além de ter feito uma Copa irretocável, praticamente reinventou o conceito de "goleiro-linha" contra a Argélia.
O
bama: o presidente dos Estados Unidos se empolgou com a Copa do Mundo e deu o tom da animação do país com a competição de um esporte que nunca esteve entre suas preferências.
P
adrão Fifa: por mais que esse termo tenha soado antipático em muitos momentos diante de tantas e caras exigências, foi o que proporcionou a organização e o sucesso do evento. 
Qualidade: os jogos tiveram bom nível técnico. 
R
aça e disposição: foi vista no seu melhor na seleção da Argélia. Que entrega!
S
ete a um: será difícil esquecer esse placar. Um vexame do futebol brasileiro.
T
orcidas: fizeram uma grande festa, nas ruas, nos bares e nos estádios, quase sempre lotados.
U
rgente: uma mudança no futebol brasileiro. 
V
ampirismo do Suárez: uma das passagens mais comentadas da Copa, seja pelo grau inusitado, seja pelo ar primitivo do ato. Que mordida!
W
eb: foi a Copa das redes sociais, dos sites e da rapidez na troca de informações.
X
avi: o craque espanhol foi o símbolo da decadência dos campeões de 2010, eliminados na primeira fase.
Y
aya Touré, Agüero, Hazard, Diego Costa... representam jogadores que fizeram temporadas sensacionais e não conseguiram jogar bem na Copa.
Z
ebra: deu as caras com o uniforme da Costa Rica, que fez uma grande Copa e passou em primeiro no Grupo da Morte.

12 julho 2014

Super Si

Sidnei Soriano Sucupira. Ou simplesmente Si. Ele foi o maior jogador de todos os tempos da história do futebol. Si foi maior do que Pelé. É que a imprensa da época sempre teve preconceito com o Si. Criaram até um slogan para difamá-lo: “Si não entra em campo, Si não joga”. Maldade pura. Si entrava em campo o tempo todo. Na verdade foi o jogador que mais entrou em campo. Único a jogar futebol profissional, em alto nível, até os 72 anos. Nascido em 1º de janeiro de 1942, Si começou sua história no futebol em 1950. Era gandula durante a Copa do Mundo no Brasil com apenas oito anos de idade. Teve sorte de acompanhar todos os jogos do Brasil no campo. Viu grandes vitórias do escrete brazuca. Na final, no recém-inaugurado Maracanã, Si foi escalado para trabalhar no jogo. O Brasil estava de branco no dia 16 de julho, às três da tarde. Friaça fez 1×0 logo no início do segundo tempo. Aí, a genialidade de Si aflorou. Ele já havia visto a habilidade do uruguaio Ghiggia. E correu para avisar Bigode. Si chegou perto do brasileiro e falou: “Bigode, o Ghiggia é mais rápido que você… quando ele ameaçar o drible, dê um puxão na camisa dele. Quando ele tentar de novo, jogue o corpo em cima dele. Faça falta de novo”. Bigode olhou para o garoto de oito anos e sorriu: “Claro, moleque!”
Evidente que Bigode não iria fazer nada. Dito e feito. Ghiggia deixou Bigode na saudade e cruzou para Schiaffino. 1×1 no Maracanã, incrédulo. O garoto foi lá e avisou de novo. Dessa vez, receoso, Bigode considerou parar Ghiggia com falta. Nada muito agressivo. Só uma faltinha. Aos 34 do segundo tempo, Ghiggia avançou de novo pela direita. Bigode estava nele. Si, então, gritou: “Vai nele, Bigo!!” Bigode foi. Ghiggia passou por ele mas o brasileiro conseguiu puxar o calção do uruguaio, que caiu. Falta. O jogo prosseguiu assim, com Bigode fazendo faltas em Ghiggia até que Ademir trocou de lugar com Bigode para seguir com as faltas em Ghiggia. O jogo acabou. Com o empate, o Brasil se tornou campeão do mundo pela primeira vez. O garoto Si vibrou e se sentiu responsável direto por isso. A partir dali decidiu ser jogador de futebol.
Si tem uma lista imensa de contribuições para o futebol brasileiro, tendo jogado em mais de 10 clubes diferentes no país. Com ele em campo nenhum time brasileiro perdeu uma final de Libertadores, ou perdeu, jamais perdeu, para o Boca Juniors em fase de mata-mata. Na seleção, a carreira seguiu igual. Em 1974, Si avisou Zagallo sobre como jogava a Holanda. Zagallo não deu bola, mas Si confabulou com os jogadores da seleção e tudo mudou em campo. O Brasil venceu por 2×1, de virada, um gol de Si e outro com passe dele. Na final, um massacre. Si e companhia botaram poderosa Alemanha na roda: 7×1, a maior goleada da história das Copas numa final. Si marcou 4 gols. Na Copa da Argentina em 78, Si driblou dois hermanos, aos 44 do segundo tempo, e marcou o único gol da vitória brasileira. Na final contra a Holanda, nova vitória. O Brasil já era hexa. Em 82, o único time que rivalizou com a seleção de 70 entrou em campo contra a Itália. Si estava no banco porque estava com 40 anos. Telê Santana queria colocar Paulo Isidoro no lugar de Serginho. Mas Si pediu para entrar: “Eu resolvo”. E entrou. Nos acréscimos, cruzamento na área. Sócrates pulava para cabecear, mas Si tomou a frente do Magrão e cabeceou primeiro, tirando do goleiro italiano Dino Zoff – que também tinha 40 anos. 3×3 e Brasil estava na semifinal. Depois, o Brasil se consagrou campeão pela sétima vez. E o país se assumiu de vez como o dono do futebol arte, organizado, inteligente, bonito e vencedor.
Si sempre resolvia. Ele foi responsável pelo primeiro título de Libertadores do Corinthians, em 99. Na disputa de pênaltis avisou para Dinei bater no meio do gol. E na última hora trocou de lugar com Vampeta. Si bateu e fez. Si conhecia onde Zinho costumava bater pênaltis e avisou o goleiro Maurício, que pegou. Depois de se livrar do Palmeiras, o Corinthians passou pelos outros times e foi campeão. Em 2000 a campanha se repetiu. Outra vez o Palmeiras, outra vez decisão nos pênaltis, dessa vez na semifinal. Si não deixou Marcelinho bater a última cobrança. Ele mesmo fez isso e marcou: 5×5. Aí, nas alternadas, Rogério bateu e Dida pegou (dica de Si). Luisão bateu e fez. Corinthians outra vez superou o rival, avançou na Libertadores e conquistou o bi. Si foi o herói de novo, com 58 anos.
Si contribuiu com diversos títulos de clubes brasileiros. Na final do brasileiro de 1980, Si jogava pelo Atlético-MG. Ao lado de Reinado era o artilheiro do campeonato. Reinaldo foi injustamente expulso, só por ter reclamado de um impedimento. O Flamengo só precisava de uma vitória simples para ser campeão. Estava 2×2. O time carioca fez mais um. Mas, nos acréscimos, Si arrancou pelo meio e chutou de longe… gol e título para o Galo. Assim era o Si. Ele sempre entrava em campo e decidia. Mas por algum motivo desconhecido, a imprensa o ignorava. A Fifa o ignorava nas premiações. A CBF idem. Si marcou mais de 1,4 mil gols. 1406 pra ser exato.
Em 2014, na Copa do Mundo no Brasil,
Si foi convocado, mesmo tendo 72 anos. Ele só jogava 15 minutos, mas sempre decidia as partidas. Felipão só chamou Si por causa de um impressionante clamor popular. Felipão queria levar Jô para ser reserva de Fred, mas acabou tendo que aceitar Si, à contragosto. Si não entrou em campo na primeira fase. Nem nas oitavas, nem nas quartas. Na semifinal, no último treino, Si jogou seus 15 minutos de sempre. Marcou três gols. Mas o treino de Felipão era só para enganar a imprensa. E para o lugar do contundido Neymar entrou Bernard. O primeiro tempo acabou 5×0 para os alemães. Felipão não colocou Si em campo. Dessa vez, realmente, o Si não entrou em campo, porque se entrasse, não mudaria nada. Si chorou no vestiário. Ele insistia que sabia como vencer a Alemanha. Mas ninguém quis ouvir um velho de 72 anos. Si anunciou sua aposentadoria do futebol no dia seguinte. Disse que queria ser presidente da CBF no futuro. Mas sabe como é, né, o pessoal sempre acha que o Si não joga, que o Si não entra em campo. Também vão achar que o Si não resolve nos bastidores da bola…
(Texto de FÁBIO DE AMORIM SANTANA)

11 julho 2014

Filosofia de Bar

Vou seguir o caminho da luz e pagar minha conta de energia, caso contrário a escuridão tomará conta de meu ser.
Tem gente que quanto mais vai a idade mais cresce a vaidade.
E de erro em erro vamos errando com mais acerto.
Coitado, casou-se achando que tinha encontrado uma puta mulher, mas encontrou foi uma mulher muito puta.
Eu vivo um dia de cada vez, que esse negócio de um dia atrás do outro me parece surubada.
Tudo é relativo, menos restaurante de comida à quilo, que é no peso.
Mentiras são como crianças. Dão trabalho, mas valem a pena, porque o futuro depende delas.
Cerveja sem álcool é igual travesti: a aparência é igual, mas o conteúdo é bem diferente!
O amor é como a gasolina da vida. Custa caro, acaba rápido e pode ser substituído pelo álcool.
Troque seu coração por um fígado. Você se apaixona menos e bebe mais.

09 julho 2014

Aparecido Hexa

Polegar, indicador, dedo médio, anular, dedo mínimo e "aparecido". Por mais estranho que pareça, há um dedo a mais em cada mão de Josevaldo de Almeida Thomé, um funcionário público do município baiano de Conceição do Coité, a cerca de 200 km de Salvador. Com 36 anos, ele tem vantagem na torcida pelo título de hexacampeão da Seleção Brasileira. "Enquanto que todo mundo faz 'hexa' com as duas mãos, consigo com uma só", brinca. A anomalia foi descoberta quando tinha entre cinco e seis meses de vida. Saiba mais em:
http://www.calilanoticias.com/2014/07/coite-torcedor-diz-nao-ter-duvida-do-hexa-do-brasil.html

06 julho 2014

Carinhoso

Uma noite, depois de quase quinze anos juntos, o casal está na cama quando a mulher sente que seu marido começa a acariciá-la como não fazia há muito tempo.
Ele começa no pescoço, desce pelo dorso até as nádegas. Volta ao pescoço, ombros, seios e pára na barriga. Coloca a mão na parte interna do braço esquerdo, passa no seio, nas nádegas. Vai da perna esquerda até o pé. Sobe pela parte interna da coxa e para bem em cima da perna. Faz a mesma coisa na perna direita e de repente...
Vira-se de costas e não fala uma palavra.
A esposa, já "acesa", lhe diz carinhosamente:
- Querido, estava maravilhoso, por que parou?
E ele, resmungando responde:
- Porque eu já encontrei o controle remoto!

03 julho 2014

01 julho 2014

Ex-Craque

Dizem que foi no ano em que ele falhou nos dois gols e deu a virada e o título pro adversário. Mas há quem aposte que foi no ano seguinte, quando ele fez os dois gols da virada e deu o título pro seu time. O certo é que, consagrado, expansivo, popular, naquele período ele mudou, ficou assim meio grogue, olhar fixo, estranho.
Treinava, jogava bem, mas de um jeito diferente. Por um bom tempo. Depois, piorou de vez. Daí a polêmica. No último campeonato, o que ele ganhou, ali do meio-campo às vezes olhava pra trás, pro seu goleiro, às vezes olhava pro outro goleiro – ficava uns segundos, recobrava a atenção, jogava. Normal. Nada mudou.
Só o jeito. Mas ninguém ousava perguntar.
Só agora, velho, acamado, depois de tantos anos, na única vez em que falou desde a internação, conseguiu contar que quando estava enlouquecendo, ou quando achava que estava louco, via uma bola no seu gol e via uma bola no outro.
Que às vezes até se perdia ali no meio de campo querendo pegar uma bola e levá-la pro outro canto. Ali, longe e perto das duas, queria mudar o passado, tirar a que estava em seu gol e botá-la do outro lado.
Não sabe como ocorreu, nem mesmo se foi verdade, mas sabe que conseguiu reverter a realidade e lançar-se ao mesmo tempo à sua meta e à adversária, anulando os gols que sofrera e validando os que marcara.
Mas que não adiantara. Nada, nada, nada, nada. Seu corpo foi campeão. Mas sua alma, derrotada.
Até hoje está lá na cama. Nunca mais disse nada além de uns resmungos, os olhos fechados. Quando abrem parecem vazios.
Olhos de nada. Nem de vivo nem de morto. Nem de herói nem de culpado.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)