29 novembro 2016

Chapecoense

0000: A Chapecoense no Campeonato Brasileiro:
2007: 55º na Série C 2007 = 01V; 01E; 04D;
2008: 00º (Nenhuma Divisão)
2009: 0 na Série D 2009 = 08V; 03E; 03D;
2010: 0 na Série C 2010 = 03V; 04E; 03D;
2011: 0 na Série C 2011 = 06V; 03E; 05D;
2012: 0 na Série C 2012 = 09V; 06E; 07D;
2013: 0 na Série B 2013 = 20V; 12E; 06D;
2014: 15º na Série A 2014 = 11V; 10E; 17D;
2015: 14º na Série A 2015 = 12V; 11E; 15D;
2016: 0 na Série A 2016 = 13V; 13E; 11D;
2017: 00º na Série A 2017 =
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21 novembro 2016

Pebolim

De repente, dá-se conta de que é jogador de videogame. Vê-se caminhando – nunca o fizera – na entrada dos times em campo. Correndo para bater bola. As luzes, a torcida, os outros jogadores se aquecendo.
O jogo começa e a movimentação o atordoa. Percebe que, como nunca antes, pode olhar e se mover para todos os lados. Bolas divididas, marcação intensa, faltas, impedimentos. Não sabe o que fazer.
Esforça-se, mas aquilo é muito estranho. Sempre jogara parado: um drible, um corte, um chute ou o passe fatal para o centroavante. Agora aquela correria.
Pior: seu time joga em contra-ataques, e ele, na ponta direita, é o responsável por receber os lançamentos, correr pela lateral ou fechar para o meio em alta velocidade. Ele tenta algumas vezes, mas não consegue.
Jogara mais de trinta anos de ponta-direita no pebolim do “Negro” Fontanarossa. Quase dez mil gols marcados. Fora os milhares que dera para o centroavante, que deve ter feito uns vinte mil. Aliás, onde ele estará? E os demais? Nenhum jogador em campo ou nos bancos é conhecido. Ninguém veio do pebolim. Só ele.
Vem de novo a bola em sua direção, para ele partir correndo. Mas ele não sai do lugar. Recebe e domina. Descumpre o comando do joystick – escuta as mãos nervosas apertando os botões inúteis, os palavrões.
Fica com o pé em cima da bola. Posiciona-se onde sempre jogara: estático, na frente, na ponta direita.
Todos olham. Ali ele se movimenta para um lado e para o outro, com a bola sob a chuteira. Chega até o bico da grande área (“el área 18”). A defesa do outro time já voltara e estava em linha.
Ele olha, vê a brecha entre o zagueiro e o arqueiro e solta a pancada. A bola bate na trave e entra.
Gol! Igual a muitos que fizera.
E ali ele fica. Não se mexe.
Se o quiserem no videogame, terá de ser como Fontanarossa o consagrou no “metegol”.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

19 novembro 2016

Chape Rei do Rio

00 61,2% de Aproveitamento contra Cariocas na Série A: 00
01 Chapecoense 1x0 Flamengo (13ªrod/2014)
02 Chapecoense 1x0 Fluminense (16ªrod/2014)
03 Chapecoense 0x1 Botafogo (17ªrod/2014) F
04 Chapecoense 0x3 Flamengo (32ªrod/2014) F
05 Chapecoense 4x1 Fluminense (35ªrod/2014) F
06 Chapecoense 2x0 Botafogo (36ªrod/2014)
07 Chapecoense 0x1 Flamengo (6ªrod/2015) F
08 Chapecoense 1x0 Vasco (11ªrod/2015)
09 Chapecoense 2x1 Fluminense (15ªrod/2015)
10 Chapecoense 1x3 Flamengo (25ªrod/2015)
11 Chapecoense 1x1 Vasco (30ªrod/2015) F
12 Chapecoense 3x2 Fluminense (34ªrod/2015) F
13 Chapecoense 2x2 Flamengo (3ªrod/2016) F
14 Chapecoense 0x0 Fluminense (6ªrod/2016)
15 Chapecoense 2x1 Botafogo (16ªrod/2016)
16 Chapecoense 1x3 Flamengo (22ªrod/2016)
17 Chapecoense 2x1 Fluminense (25ªrod/2016) F
18 Chapecoense 2x0 Botafogo (35ªrod/2016) F
00 10 vitórias; 3 empates; 5 derrotas; 25 GP; 20 GC 00

17 novembro 2016

Caso Sério

Caso Sério
(Rita Lee)
Eu, fico pensando em nós dois
Cada um na sua
Perdidos na cidade nua
Empapuçados de amor
Numa noite de verão
Ai, que coisa boa
À meia-luz, a sós, à toa
Você e eu somos um caso sério
Ao som de um bolero
Dose dupla
Românticos de Cuba Libre!
Misto-quente
Sanduíche de gente

15 novembro 2016

13 novembro 2016

A Maratonista

Ela não brilhou em uma Olimpíada, não tem a fama de uma superatleta e nem é bajulada por patrocinadores. Mas Harriette Thompson escreveu seu nome na história com um recorde tão respeitado quanto às marcas mais populares: aos 92 anos e 65 dias, ela se tornou a mulher mais velha a terminar uma maratona.
O feito aconteceu em junho do ano passado, em San Diego (EUA). Harriette completou a Rock'n Roll Marathon em 7h24min36seg. Superou, assim, o recorde anterior que pertencia a Gladys Burrill, que tinha 92 anos e 19 dias quando completou sua última maratona, em 2010.
Não bastassem os 42.195 metros da maratona, Harriette ainda teve que superar obstáculos pessoais para terminar a prova. Cinco meses antes, ela havia perdido o marido, Sydnor, vítima de um câncer no pâncreas. E ela mesma precisou suportar durante a corrida as feridas em uma de suas pernas causadas pelo tratamento com radiação. Harriette já venceu duas vezes o câncer.
"É sempre difícil, mas este ano foi um ano muito difícil para mim. Como fiquei acompanhando meu marido, já que ele estava muito doente, e depois tive esse problema na perna, não pude treinar direito. Fiquei realmente muito emocionada por conseguir terminar a prova", desabafou ela.
Assim que completou o desafio em 2015, ela afirmou que planejava voltar à mesma prova neste ano. No entanto, as dores e a infecção em sua perna pioraram, e no primeiro semestre ela mal conseguiu correr. Para piorar a situação, a norte-americana ainda foi diagnosticada com um tumor maligno na região da boca.
Engana-se, contudo, quem imagina que isso abalou essa corredora que começou no esporte aos 70 anos, depois de uma carreira como pianista clássica.
"Espero me curar desse problema e aproveitar os meses seguintes para me preparar para a próxima maratona. Esse é meu grande objetivo. Estou mantendo uma atitude positiva, porque essa é a única maneira." Palavras da maratonista mais velha do mundo.
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11 novembro 2016

Peladeiro

O jornalista Armando Nogueira quem contou, já faz tempo.
Um senhor, passado bem dos sessenta, caminhava no Aterro do Flamengo e parou pra assistir a uma pelada. Sentou-se num degrau e ficou vendo a molecada jogar.
Com alguns minutos, um dos garotos se machucou e saiu. Pra não acabar a partida, alguns deles começaram a pedir ao senhor que entrasse. Ele negou, falou da idade, que só queria assistir. Mas insistiram, disseram que era só pra completar, ficar parado na defesa e o jogo prosseguir.
Ele foi. Mas houve uma discussão constrangedora em qual time o “velho” entraria – que ficaria mais fraco do que o outro, diziam. Tiraram no par ou ímpar. Ele aguardou e foi pro time que perdeu a aposta.
Aí o Armando Nogueira descreve deliciosamente a sequência de lances que o senhor exibiu. Domínio, passes, toques, enfiadas, matadas de peito, tudo com refinada elegância, para pasmo da molecada e para alegria do seu time, que deu um passeio e ganhou de goleada.
Acabado o jogo, a molecada o cercou, elogiou, perguntou quem ele era, pediu que ele voltasse sempre. Nilton Santos sorriu, passou a mão na cabeça de alguns e foi embora.

09 novembro 2016

07 novembro 2016

Apito Final

O que acontece quando não há ninguém lá? Quando todos foram embora, apagaram-se as luzes, fecharam-se as portas, no oco da madrugada, no vórtice do silêncio, o que há?
Onde havia sol, pessoas, gritos, risos, xingamentos, onde os jogadores enredavam e terçavam sagas, agora o que há?
As cores, os gestos, os suores, as bandeiras, o calor do cimento, a luz da grama, o gemido das chuteiras, o zumbido que roubara a todos do tempo e do espaço, onde foram parar?
Quando o jogo acaba, e saem os jogadores e os torcedores, e depois as luzes, e depois, bem depois, os ecos dos gritos e choros, e só então as sombras dos chutes e passes, e o espectro dos olhares, e os espantos e as dores, e as lembranças imaginadas, e as almas e vozes rasgadas, o que é que ainda fica lá?
O que acontece quando todos saem de lá?
Quando tudo é escuro, quando tudo é fundo, quando ninguém vê nada, quando não há mais nada, nem ninguém para ver o nada, o que ainda existirá?
No campinho, no terreiro, na várzea, no estádio – onde havia tanta vida, o que fica em seu lugar?
Algo como o que chamam morte?
Não.
Acho que não é isso o que há.
Porque cada jogo não é só uma vida. É toda a história da vida, é toda a criação; o céu, a terra e o ar.
E quando o jogo acaba, acaba tudo. Não há mais nada: nem vida, nem morte, nem céu, nem terra, nem ar.
O próximo jogo será outra história, outro mundo, outro sopro de outro deus, outra aventura sem antes nem depois, outros seres surgidos do mar.
E ele, como todos os que houve antes, como todos os que ainda virão, depois do apito final, depois da saída de todos, quando o oco, o fundo, o vórtice, quando o eclipse, o vácuo e o silêncio baixarem, ele também acaba.
E eis que de novo, no campo vazio, de novo não há mais nada.
Nem haverá.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)

05 novembro 2016

03 novembro 2016

Sem Taça

Maiores jejuns de Títulos:
Internacional, 8 anos
(do Gaúcho 1961 até o Gaúcho 1969)
Atlético Mineiro, 11 anos
(do Mineiro 1915 até o Mineiro 1926)
Cruzeiro, 11 anos
(do Mineiro 1945 até o Mineiro 1956)
Fluminense, 12 anos
(do Carioca 1924 até o Carioca 1936)
Flamengo, 12 anos
(do Carioca 1927 até o Carioca 1939)
Vasco, 12 anos
(do Carioca 1958 até o Carioca 1970)
São Paulo, 13 anos
(do Paulista 1957 até o Paulista 1970)
Grêmio, 14 anos
(do Gaúcho 1932 até o Gaúcho 1946)
Palmeiras, 17 anos
(do Paulista 1976 até o Paulista 1993)
Santos, 20 anos
(do Paulista 1935 até o Paulista 1955)
Botafogo, 21 anos
(da Taça Brasil 1968 até o Carioca 1989)
Corinthians, 23 anos
(do RJ-SP 1954 até o Paulista 1977)
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01 novembro 2016

Jogo de Cena

Você pode não acreditar. Mas vou te contar como foi.
Quando começou a chover, estava três a zero pra eles. Três bobeiras nossas – um timinho fraco daqueles, juntado no bairro, não tinha como vencer o nosso.
A gente joga junto há um tempão. Você sabe. Não tem roça, várzea, e até estádio mesmo, da região em que a gente não tenha jogado. E bem: estávamos invictos havia meses.
Mas foram três bobeiras em dez minutos.
Fomos pra cima, pra massacrar.
Aí começou a chuva. Mas não começou fraquinha e depois aumentou. Não. Foi uma pancada só, de uma vez. Uma enxurrada forte, grossa, desabando do céu.
Parecia um basculante, não, mil basculantes de areia entornando a carga em cima do campo.
Sumiu quase tudo da visão. A terra embaixo virou barro, lama, poça, pântano. Cada passo afundava a perna até a canela.
Mas a gente seguiu. Parar significaria derrota.
Só que a chuva, a inundação, o mangue, tudo piorava rapidamente.
Alguém deles gritou e pediu pra parar. Do nosso lado gritaram que não. Que o jogo seguiria. Jogo é pra homem, parar é coisa de maricas, essas coisas.
Mas nem era jogo mais. Era uma andança de zumbis no meio do nada, se arrastando sem saber pra onde, caindo, enchendo a cara de barro, engolindo sujeira espessa, os olhos e as orelhas entupidas daquela gosma.
Nem se via mais a bola. Na verdade, nem se sabia se ela ainda estava em campo. Ninguém sabia de nada.
Foi aí que alguém gritou: “Quem tá com a bola?”.
Ninguém respondeu.
Juro que não sei como, nem pensei antes de falar, mas resolvi gritar: “Tá comigo!”.
“Onde?”
Eu jogava na frente, e tinha ficado lá quando a chuva começou.
“Aqui, na área, vou fazer o gol!”
“Faz logo, faz logo!”.
“Gol!”, gritei. “Gol!”
Escutei meu time vibrar. O outro time começou a reclamar um com o outro: “Por que não marcou direito? Volta pra ajudar! Ô, frangueiro, vai entregar, vai?”.
Vi que dava certo. Comecei a comandar: “Pessoal, vamos virar!”.
A chuva agora era mais do que areia. Era cimento, pedra, cal, tijolo, nos soterrando debaixo de um pesadelo de muitos andares. Todo mundo se movendo a esmo, quase surdos com a barulheira das chicotadas da chuva, os pés afundando, os esguichos, o movimento movediço de alucinados cegos na escuridão encharcada.
Mantive a voz: “Isso, Matozin, ali na direita, o Sossô tá livre! Boa! Cruza, Sossô, tô desmarcado! Beleza, bolão! Gol! Gol!”
Meu time percebeu, claro. E entrou no jogo. Cada um cantava sua jogada: “Vai, Pirão! Cobre a esquerda, Zeto! Lança pro Jungo, rápido!”. Era eu: “Gol! Gol! Gol!”.
Vibração. Gritaria.
O time deles, que estava se xingando sem parar, percebeu. Quer dizer, um deles percebeu e gritou: “Três a três! Quem fizer ganha!”.
Animados com o domínio da situação, topamos: “Vamos lá. Quatro acaba.”
Aí é que ocorreu o que eu não esperava. Rapidamente, no meio do barulho dos pés no barro, do estrondo da catarata que se despedaçava nas nossas cabeças, o carinha deles gritou: “Pênalti! Pênalti!”.
“O quê?”, gritei.
“Me puxaram na área, rasgaram minha camisa. É pênalti!”
Fiquei atordoado. Meu time também. Ninguém falava nada.
Não podíamos duvidar. Tentei pensar em alguma coisa, mas não deu tempo. O cara anunciou: “Vou bater!”. Nosso goleiro, no embalo, mandou: “Pode vir! Pode bater!”.
Bom, aí se deu a confusão. O jogador deles começou a comemorar alto: “Gol! Gol! Gol!”. Mas, junto com ele, nosso goleiro, no mesmo tom, dizia: “Peguei! Peguei! Peguei!” E se puseram a discutir aos berros. “Pegou nada, é gol, tá lá dentro!” “Peguei sim, olha a bola na minha mão!”
Todo mundo passou a se xingar, mas sem se ver, sem ver nada, falando e gesticulando no escuro, como se os olhos estivessem virados pra dentro, como se estivéssemos debaixo da terra, no fundo do mar, dentro de uma caverna ou de um poço.
Então a chuva começou a diminuir.
Foi se diluindo, enfraquecendo, aliviando, a claridade se insinuando no meio dela, invadindo o campo – e de repente explodiu: abriu os olhos de todos, o dia se escancarou, tudo estava claro, amarelo, branco, a luz quente do sol nas cabeças.
E o que se viu foi todo mundo completamente enlameado, como se usássemos armaduras, com os pés fundos na lama, alguns deitados, outros sentados, meia dúzia fora do campo, agarrados a uma árvore.
Conferimos, contamos. Todos estavam lá.
Menos a bola. Demoramos a achá-la, depois de escavar o campo todo.
Bom, e o jogo?
Ninguém passou recibo.
Ninguém falou nada.
Era como se tudo de fato tivesse acontecido.
Mas havia a questão do pênalti. Entrou ou o goleiro pegou?
Quem tocasse no assunto desmontaria tudo. A farsa estaria desfeita.
Raciocinei rápido. Eram três gols inventados pra nós e um só pra eles. Valia a pena. E nosso time era muito melhor. Propus: “Pessoal, quatro a três. Agora que tá sol, vamos queda de cinco?”.
Todo mundo topou.
Mas não deu.
Nosso goleiro não aceitou de jeito nenhum.
Ficou indignado.
Juntou suas coisas e saiu reclamando: “Peguei o pênalti, caramba! Peguei. E vocês dão gol?”. Parados, nós o vimos se afastar tirando a lama do rosto e do corpo.
De longe ele ainda se virou e gritou: “Defendi, entenderam? Defendi o pênalti! Se quiserem, joguem sozinhos!”.
E foi embora.
Aí, lógico, não deu mais. Acabou o jogo.
Foi assim que perdemos.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)