23 janeiro 2017

Sonho de Menino

Nunca foi de estudar, não. Negócio dele era bola, o dia todo.
Às vezes ajudava a mãe a preparar as coisas pra vender na rodoviária, mas logo se mandava pro campinho.
Comigo, nem pensar. Veio conhecer o ponto, expliquei tudo (grupo, dezena, os rateios), não quis saber. Deu uma brecha e sumiu.
Mas nunca deu trabalho. Chegava sujo, tomava banho, deitava, de manhã saía pra escola – mas ia nada, só quando não arrumava pelada no caminho.
Bom, agora taí. Moço, alto. Diz que vai embora. Tentar um time numa cidade maior. Fala nisso o dia todo. A gente tenta mudar a cabeça dele, mas vai dizer o quê? Pra vender sacolé, fazer jogo do bicho?
O medo é de que ele não volte nunca mais.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)