01 outubro 2013

Futebol no Além

Uma gigantesca dúvida assola a humanidade: existirá futebol depois da morte? Tá bom, uma parte da humanidade. A minoria, ok. Como? Vocês nunca nem pensaram nisso?
Então tá. Uma gigantesca dúvida me assola (eu sou parte da humanidade, e tenho direito a minhas dúvidas gigantescas): haverá futebol no céu? No purgatório? No inferno?
Eu suponho que sim. Afinal, o que haveria de melhor para se fazer para passar a eternidade?
Sabemos – tá bom, só eu sei – que há coisas na outra vida para ocupar o tempo e justificar os três estágios.
Alguns exemplos.
No céu, tocar lira, soprar trombetas e ver o blue-ray da história da criação. No purgatório, assistir a stock car, ler códigos de leis e processos e debater filmes de arte. E no inferno – Deus me livre de eu ir lá! -, participar de planejamento estratégico situacional.
Mas só isso não justifica a aventura humana. Nascer, crescer, lutar, trabalhar, amar, sofrer, reproduzir-se e morrer, gerações e gerações, edificando a obra de Deus na Terra somente para isso?
Nananina.
Alguma recompensa há de haver. Sexo está descartado. No céu, porque é pecado. Nos outros dois, porque é prazer.
Então, só pode ser futebol. Assistir, jogar, discutir, inventar, lembrar, sofrer – enfim, o futebol tal e qual.
No céu, com certeza, devem ficar os grandes craques, as peladas, os teipes antigos, as mentiras sobre o que já fizemos e vimos outros fazerem, as goleadas e um telão passando “Pelé Eterno” sem parar.
No purgatório, as bolas na trave, os jogos roubados, os pay-per-view, os cabeças de área, os chiados no rádio, as mesas-redondas e um telão com palestras intermináveis de técnicos acerca de táticas de jogo.
Já no inferno estarão os juízes, as torcidas organizadas, os cartolas, os zero-a-zeros, as vuvuzelas e um telão passando infinitamente Itália 3 x 2 Brasil da Copa da Espanha.
Mas, claro, pode ser que não haja nada disso. Nem futebol, nem anjos, nem filmes iranianos (ufa!) e nem (viva!) janela de oportunidade, missão, visão e power point.
Ou seja. Nada.
Em outras palavras, pode ser que não haja vida após a morte, que é uma pergunta que assola algumas pessoas. Hein? Muitas? Tá bom, muitas pessoas. Mais que muitas? Todas? A humanidade inteira? Ah, não. Aí é exagero.
Eu, pelo menos (ou seja, restaria somente a humanidade menos um), não estou nem aí pra isso.
O que importa pra mim é saber se vai ter futebol.
Vocês que percam seu tempo com essas bobagens.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)