07 novembro 2015

Chutebola

Contam que nos primórdios do football no Brasil quiseram abrasileirar o nome do esporte. Foot é pé e ball é bola. Então, tentaram ludopédio: ludo (jogo) mais pédio (relativo a pé), a partir do latim. Não pegou.
Poderiam ter tentado chutebola, que manteria parte do som e a descrição do jogo da palavra inglesa. Não seria absurdo. Na Itália, por exemplo, o nome do esporte é calcio, cujo significado é justamente chute, que em espanhol pode ser patada ou disparo – este último, não por acaso, é shoot em inglês, provável origem de chute. Mas em português e em espanhol preferiu-se a adaptação sonora.
Os alemães usaram a literalidade: fussball, pé e bola. Só que os ingleses inventaram outro nome, que depois abandonaram, que é o usado no inglês americano: soccer. Dizem que é resultado de síncopes da palavra association, que teria virado, por brincadeira, assoccer e depois, por facilidade, soccer.
Interessante é que a palavra football é algo – até onde eu consigo processar esses códigos ou acordes ingleses – como bola de pé ou para pé ou para ser usada com os pés. Assim como basketball é bola de cesta ou para cesta – aliás, antes de virar basquete em português, adotou-se exatamente o nome de bola ao cesto.
Mas estranhamente os americanos deixaram a palavra football justamente para o jogo que se joga com as mãos e que não usa uma bola. E no qual chute, que acontece raramente – e, na verdade, é um chutão pro alto –, é chamado de kick e não de shoot – que, vejam só, é a palavra usada para o arremesso com as mãos no basquete.
Como o que estão jogando aqui na terra está longe de ser futebol, talvez devêssemos voltar a discutir a denominação do esporte que temos praticado. Retomando a cogitação do início, o mais indicado talvez seja kickball – abrasileirado para chutãobola.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)