05 junho 2016

Bandeira Agrimensor

O sujeito era agrimensor, vindo da capital para obras na região. Tornou-se autoridade local pelo respeito à sua sofisticada tarefa nas ruas, estradas, fazendas.
Viam-no com o teodolito para todo lado, demarcando fronteiras e rotas, resolvendo pendengas de divisas, delimitando e mapeando o que era ignorado ou contencioso.
Aos domingos, assíduo nos jogos, começou a ser consultado sobre impedimentos duvidosos porque uma ameaça de linchamento do bandeirinha se dissipou quando ele interveio e disse que o auxiliar estava certo. Bastou: anulou-se o gol e ninguém discutiu.
Nos muitos meses em que ficou por ali, até que as obras o levassem para outra região, era obrigatório, nos jogos, que o juiz e os bandeiras, na dúvida, olhassem para ele, sempre sentado no degrau mais alto, na linha do meio de campo.
Ele fazia o sinal com o polegar, para cima ou para baixo, para validar ou não a decisão do bandeirinha.
E ninguém discutia.
O problema foi quando ele partiu. Na primeira partida, numa polêmica, lincharam o bandeirinha. Ninguém mais quis exercer a função.
Até hoje, me dizem, jogam sem bandeirinhas. O juiz deixa que os jogadores se entendam. Não havendo acordo, acaba o jogo.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)