22 dezembro 2016

Nomes e Apelidos

O Pobre, ponta-direita, já jogava lá havia um tempo. O apelido decorria de ser filho de empresário, enquanto o resto do time era formado por pobres de verdade: lixeiros, desempregados, chapas, pedreiros, etc.
O Deci, batizado Valdeci, chegou depois, pra jogar na ponta esquerda.
O centroavante, Vicente, era chamado pelo sobrenome (de Moraes), porque o goleiro tinha o mesmo nome e era mais antigo.
De modo que o ataque ficou sendo Pobre, de Moraes e Deci.
Mas um gozador teve o achado: “de Moraes pode ser Demarré!”.
E imortalizou o ataque local: Pobre, Demarré e Deci.
Eu sei que você não acredita. Mas é verdade.
Igual a uma outra dupla que jogou muitos anos numa cidadezinha ali perto.
Eram gêmeos, chamados de Toinho (clássico, lançador) e Tonhão (veloz, artilheiro).
O primeiro acabou virando Tuím. Depois, com o seriado famoso na TV, um gaiato batizou o segundo de Piques, o que combinava com o seu estilo de jogo.
E assim ficou: Tuím e Piques.
Jogaram muito. Pode perguntar lá que vão confirmar.
Mas o jogador mais famoso da região naquela época foi o Maria.
Isso mesmo. Maria.
Chamava-se Walderney, desde pequeno Neyzão, por ser troncudo e brigador. Mas no ginásio, por azar, tocou-lhe ler em voz alta a conjugação do verbo somar. E na hora do futuro do pretérito saiu “eu somaria”.
Ele tirou dez, mas levou as gozações e o apelido. Custou-lhe muitas brigas, mas não tinha mais jeito.
Acabou se acostumando.
Só não gostou quando chegou pra formar dupla com ele o Joãozinho.
Aí ele largou o time e sumiu. Sem deixar pistas.
Por fim, teve o Du Morrier – alto, magrelo e de pele morena. Era o Pedreira até lançarem, nos anos setenta, um cigarro comprido e marrom chamado Du Morrier.
Pronto. Ficou sendo seu nome até o final da carreira.
Que, aliás, nem durou muito. Ninguém nem se lembra dele direito.
Por fim, não, minto, porque eu me lembrei de outro caso. O lateral esquerdo baixinho, sarnento, chamado Sebastião Beethoven.
Que ganhou o apelido de Tantantantan por causa da abertura da Quinta Sinfonia, que a torcida tocava na corneta sempre que ele pegava na bola.
Com o tempo, ficou sendo o Tantan.
Não era nenhum gênio, mas até que jogou direitinho.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)