07 agosto 2018

Defesa Única

Rolei ali no barro. Com o uniforme do colégio. Ainda bem que tinha tirado a mochila. Mas espalmei a bola no ângulo.
Ele que desafiou. Eu estava só assistindo. Parei a bicicleta. Ele chamou: “Ô, duvido você defender!”. Fiz que não. Ele insistiu. Deitei a bicicleta no chão, desci o degrau de terra, andei pro gol, ele gritou: “Lá vai!”. Foi o tempo de jogar a mochila no pé do bambu, me virar e saltar. Lá no cantinho, alto, forte. Toquei com os dedos e caí rolando.
Vou levar uma bronca danada. Nem sei se dá tempo de lavar pra amanhã. Mas peguei.
Ele quis chutar outra. Mas não. Valeu aquela. Xingou. Até tive medo, o cara é grande e tinha uns amigos dele. Me encurralaram, deram uns chutinhos, um deles me cuspiu. Aguentei firme.
Chegaram uns adultos e eles pararam. Falaram pra eu voltar no sábado. Querem apostar.
Eu tenho lição pra fazer e marmita pra entregar. Mas vou. E vou pegar de novo. Podem me bater, me machucar, mas a bola não entra de jeito nenhum.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
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