05 outubro 2016

Zagueiro Pipi

Fim da cerimônia, ele se aproximou e cumprimentou:
– Senhor Sebastião! Prazer enorme em conhecê-lo.
Era o novo presidente do time, na solenidade de posse, cumprimentando o zagueiro central, jogador mais antigo do elenco, titular há mais de dez anos, eterno capitão, respeitado na cidade e na redondeza como o melhor de sua posição em todas as épocas.
– Eu sou o Dr. Leopoldo, Sebastião. Mas pode me chamar de Léo.
Alto, negro, forte, ele apertou firme a mão do presidente e falou baixo e grave:
– Muito prazer, Elpídio Silva Soares.
– Hein?
– Muito prazer.
– Não.
– ?!...
– Como disse?
– Muito prazer.
– Não!
– Não o quê?
– O nome. Qual nome você disse?
– Elpídio Silva Soares.
– Não é Sebastião?
– Não. É Elpídio.
A confusão ocorreu porque, antes do início da cerimônia, o presidente que deixava o cargo citou no seu discurso, mostrando–os para o que tomava posse – que nada conhecia do time e nem de futebol: era um jovem empresário com pretensões políticas –, um a um os jogadores do time.
Foi falando os nomes e as posições de cada um. Deixou para o final o zagueiro, dada sua importância. E fez elogios especiais, na linguagem empolada que costumava usar nessas ocasiões:
– Por fim, ali está o principal jogador de nossa plêiade, responsável maior pelas nossas glórias inumeráveis. Líder e referência máxima da nossa agremiação aqui e alhures, urbi et orbi. Nosso zagueiro, capitão, comandante, a fortaleza, o baluarte de nossa defesa, o nosso inexpugnável bastião!
As palmas irromperam fortes. O zagueiro se levantou, agradeceu e sentou-se de novo.
Foi por isso que, no fim da cerimônia, o novo presidente, percebendo que a amizade com o zagueiro o ajudaria no início de sua gestão, se aproximou para cumprimentá-lo. E daí sua estranheza.
– Não é Sebastião?
– Não, senhor.
– Mas… O apelido…
– É Pipi, senhor. Ao seu dispor.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)